Com o passar dos anos, o diretor britânico Peter Greenaway
se mostra cada vez mais insatisfeito com os rumos contemporâneos da linguagem
cinematográfica. Isso fica evidente tanto em suas declarações como nos seus filmes.
Nesse último caso, “Que viva Eisenstein!” (2015) é um atestado enfático de suas
inquietações artísticas. Para começar, Greenaway usa como protagonista aquele
cineasta que talvez seja o nome-chave na consolidação do cinema como expressão
artística própria – o russo Sergei Eisenstein, que em obras-primas como “O
encouraçado Potemkin” (1925) e “Outubro” (1928) estabeleceu um estilo de
filmagem e edição que se tornou referência fundamental para a narrativa e a
estética cinematográficas. O foco principal do roteiro se concentra no período
em que Eisenstein esteve no México para realizar “Que viva México!”, obra que
resultou inacabada. Só que o fato de usar figuras e situações “reais” não
significa necessariamente que Greenaway tenha se vinculados aos moldes
convencionais de uma cinebiografia. Na verdade, o diretor usa a perspectiva
histórica como um elemento a mais dentro de uma concepção de cinema que se
interliga com outros meios culturais (teatro, pintura, literatura,
antropologia, tecnologia). Essa concepção multimídia do que seria um filme
recebe um trato formal que prima pela coerência e o rigor sem que se perca o
seu caráter libertário artístico. Greenaway não se limita apenas a reproduzir
fatos históricos. O que ele faz é jogar o espectador dentro da mente
fervilhante de criatividade e ávida por experiências e conhecimento de
Eisenstein. Para isso, emula o estilo de montagem característico do seu
biografado, intercala com trechos documentais e de sequências de alguns dos
trabalhos mais célebres de Eisenstein e conecta tudo com a encenação virtuosa e
repleta de nuances simbólicas que são típicas do próprio Greenaway. Esse choque
de truques e recursos diversos resulta em um mosaico narrativo erudito e
fascinante, que relaciona de maneira intrínseca arte, política, história, poder
e sexo.
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