Há um fato bastante emblemático na vida da cantora
norte-americana Janis Joplin no qual o documentário “Janis: Little girl blue”
(2015), que trata da trajetória pessoal e artística de sua protagonista, se
detém com bastante ênfase: o fato dela no auge do seu sucesso ter “demitido” a
sua banda Big Brother and The Holding Company pelo motivo do grupo não ser o “profissional”
suficiente para acompanha-la numa fase de sua carreira onde as expectativas
seriam maiores. Na visão do filme, e de muitos apreciadores de rock, tal decisão
da cantora foi equivocada pelo fato da Big Brohter ter sempre apresentado a
sintonia artística e existencial ideal com Joplin. Após esse rompimento, a
cantora nunca mais teria apresentado a mesma intensidade em seu trabalho e teve
uma derrocada considerável em sua vida particular que acabou culminando numa
overdose fatal de heroína. Tal teoria encontra uma ressonância simbólica na
própria relação entre o documentário em questão e a sua biografada. Ainda que
respeitável na sua combinação de farto material de arquivo entre preciosas
imagens de apresentações de Joplin e depoimentos reveladores de parentes,
amigos e parceiros de música, a produção dirigida por Amy Berg é de um
formalismo correto e sem maiores ousadias, bem ao contrário da arte esfuziante
e visceral de Joplin, um misto azeitado e muito particular de blues, rock e
soul. Falta aquela centelha criativa que Martin Scorsese mostrou com
brilhantismo em obras-primas como “O último concerto de rock” (1978) e “Bob
Dylan: No direction home”. Ainda assim, “Janis: Little girl blue” não deixa de ser
um retrato interessante tanto sobre uma artista fundamental do século XX como
dos fascinantes e conturbados anos 60.
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