O diretor François Ozon tem se mostrado como uma espécie de
cronista/cineasta dos costumes da sociedade francesa nesses últimos anos,
conseguindo por vezes revelar alguma inventividade em termos temáticos e
formais. Em “Ricky” (2009), o cineasta consegue obter uma interessante síntese
narrativa ao combinar drama realista e uma ambientação fabular. Dá para dizer
que na metade inicial do filme se tem uma áspera atmosfera naturalista ao
mostrar o relacionamento entre um homem e mulher que trabalham como operários
numa fábrica, mostrando o cotidiano duro da classe média baixa na França. Na
segunda metade da narrativa, entretanto, a produção envereda aos poucos e com
sutileza para o universo fantástico, quando Ricky, o filho nascido da união
entre os protagonistas, se revela um ser alado. Ao contrário de uma obra
norte-americana no gênero fantasia de um grande estúdio, a história não se
vincula à aventura ou ação, ganhando mais um caráter reflexivo e simbólico em
relação à figura do bebê voador. É na forma como o fato inusitado em questão
afeta o cotidiano e mesmo o equilíbrio existencial e psicológico da família que
reside o estranho encanto de “Ricky”, revelando uma dimensão humanista
fascinante.
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