quinta-feira, julho 28, 2016

Ricky, de François Ozon ***

O diretor François Ozon tem se mostrado como uma espécie de cronista/cineasta dos costumes da sociedade francesa nesses últimos anos, conseguindo por vezes revelar alguma inventividade em termos temáticos e formais. Em “Ricky” (2009), o cineasta consegue obter uma interessante síntese narrativa ao combinar drama realista e uma ambientação fabular. Dá para dizer que na metade inicial do filme se tem uma áspera atmosfera naturalista ao mostrar o relacionamento entre um homem e mulher que trabalham como operários numa fábrica, mostrando o cotidiano duro da classe média baixa na França. Na segunda metade da narrativa, entretanto, a produção envereda aos poucos e com sutileza para o universo fantástico, quando Ricky, o filho nascido da união entre os protagonistas, se revela um ser alado. Ao contrário de uma obra norte-americana no gênero fantasia de um grande estúdio, a história não se vincula à aventura ou ação, ganhando mais um caráter reflexivo e simbólico em relação à figura do bebê voador. É na forma como o fato inusitado em questão afeta o cotidiano e mesmo o equilíbrio existencial e psicológico da família que reside o estranho encanto de “Ricky”, revelando uma dimensão humanista fascinante.

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