Como explicar que o mesmo diretor dos idiossincráticos e
criativos documentários “Tigreros” (1994) e “Moro no Brasil” (2002) é também
responsável por uma obra tão enfadonha quanto “A jovem rainha” (2015)? Talvez o
finlandês Mika Kaurismäki precisasse pagar as contas ou mesmo devesse algum
favor a um produtor, mas o fato é que esse seu filme mais recente recebe um
tratamento formal-temático bastante derivativo e desinteressante. Não dá para
dizer que a premissa principal de sua trama e o fato da narrativa se vincular
ao gênero do “filme de época” sejam desculpas fundamentais para o resultado
final frustrante. O roteiro até esboça algumas situações potencialmente
interessantes envolvendo questionamentos sobre a opressão social e moral do
poder patriarcal político e um possível e explosivo romance lésbico. Nas mãos
de um cineasta disposto a esmiuçar tais nuances e ousar em termos estéticos,
poderia render algo de memorável (dentro de tal concepção, é só lembrar, por
exemplo, do polêmico e extraordinário “A rainha Margot”). Do jeito que
Kaurismäki leva as coisas, entretanto, tais expectativas caem por terra, vide
uma encenação mofada, um formalismo bem-comportado e um roteiro que vai se
aprofundando numa breguice novelesca e previsível.
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