A promessa de uma obra libertária por parte da produção
espanhola “Kiki – Os segredos do desejo” (2015) só fica mesmo na premissa de
seu roteiro. Em termos formais, o filme em questão é de caretice e mediocridade
extremas – narrativa engessada em formato episódico e estética estilo “comercial
de sabonete” (tendência essa deixada evidente logo de cara na horrorosa sequência
inicial de créditos). Em sua parte temática, as coisas ficam ainda piores. Por
mais que se pretenda fazer uma espécie de inventário sobre as manias e taras
sexuais dentro da sociedade espanhola, os direcionamentos da trama sempre se
encaminham para adequação de tais “desvios” comportamentais para dentro do
modelo familiar, ou seja, o casamento sempre deverá ser preservado. Pode-se
dizer que tal orientação existencial teria ligação com a tendência cristã
conservadora típica da Espanha, mas na realidade isso cai por terra quando se
lembra de alguns filmes marcantes da filmografia espanhola de diretores como
Luis Buñuel, Pedro Almodovar e Bigas Luna que questionam com grande criatividade
artística e contundência temática os valores morais pequeno-burgueses.
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