Num primeiro momento, a abordagem artística concebida pelo
diretor Benedict Andrews para “Una” (2016) pode até sugerir alguma ousadia – a temática
polêmica da pedofilia parece ser filtrada por uma narrativa mais atmosférica e
de sóbria abordagem emocional. O desenrolar da narrativa, entretanto, revela
que tal impressão se mostra enganosa. O desenvolvimento da trama vai mostrando
um caráter novelesco, beirando o exagero e o brega, e por vezes caindo no
francamente moralista (afinal, a sugestão de que a protagonista Una tem uma
vida “dissipada” em termos de comportamento por ter sido abusada sexualmente na
adolescência está bem longe de caracterizar uma visão libertária). Há até uma
menção de ambiguidade na relação entre Una (Rooney Mara) e seu algoz/amante Ray
(Ben Mendelsohn), mas tal sutileza dramática é progressivamente abafada em nome
de uma solução mais previsível e adequada em termos “morais”. O formalismo do
filme se mostra em sintonia com as escolhas convencionais e um tanto hipócritas
do roteiro, dando para a narrativa uma estruturação asséptica, típica de um
telefilme derivativo,
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