A estrutura narrativa de “Divinas divas” (2016) lembra
bastante outro documentário de temática semelhante, “Dzi Croquettes” (2009) – a
partir de lembranças pessoais da diretora Leandra Leal, a obra faz um
inventário histórico e sentimental sobre algumas das principais figuras do
universo de artistas travestis que despontaram no cenário cultural brasileiro
nos anos 60. O roteiro estabelece uma forma simples de contar a sua história,
alternando sequências de ensaios e apresentação de um show recente que trouxe
as artistas de volta à cena, trechos com fotos e imagens de arquivo e
depoimentos de suas principais personagens. Se esse encadeamento da trama pode
parecer previsível em um primeiro momento, com o desenvolvimento da narrativa
vai se revelando coerente e eficaz. A abordagem emocional e a atmosfera do
documentário têm um forte viés de sentimentalismo e nostalgia, mas Leal
consegue oferecer outras nuances para o seu trabalho, enveredando ainda para uma
perturbadora e sardônica perspectiva mista de malícia, sordidez e teor grotesco.
Assim, o retrato existencial que oferece passa distante do unidimensional e
meramente laudatório, focando com contundência e vigor uma passagem histórica
do Brasil, no caso o tenebroso período da ditadura militar, marcada por uma
ambígua combinação de sombria repressão moral e esfuziante hedonismo
comportamental.
Um comentário:
Gosto muito da cena em plano sequencia delas se dirigindo até o teatro
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