Quando despontou no cenário cinematográfico do seu país com "Para sempre na minha vida" (1999) e "O último beijo" (2011), o diretor italiano Gabriele Muccino chamou atenção por mostrar uma assinatura formal e temática que revelava uma certa coerência artística. Os filmes mencionados faziam um divertido e sentimental inventário emocional sobre o comportamento amoroso da juventude contemporânea, com o cineasta sabendo conciliar roteiros espirituosos e narrativas de dinâmica cativante. O sucesso de público e crítica de tais produções fizeram com que realizasse alguns trabalhos nos Estados Unidos, o que fez com que progressivamente o seu traço autoral se diluísse. Em sua volta para a terra natal, Muccino parece querer retomar a linha artística de suas primeiras obras, mas o resultado final de "Sobre viagens e amores" (2016) mostra que ele perdeu o gume da sua antiga pegada estética-existencial. Por vezes, pode-se perceber todas as suas boas intenções - a trama apresenta tintas libertárias, há a pretensão de que a visão sobre amores juvenis e o consegue processo de amadurecimento emocional de seus personagens seja mais realista, o formalismo aposta em fotografia e edição de talhe mais moderno. Ainda que todo essa concepção não seja algo especialmente original, uma direção que soubesse sintetizar ousadia e rigor narrativo poderia geral algo de memorável. Não é o caso, entretanto, desse trabalho mais recente de Muccino. O diretor se rende a truques formais e abordagem emocional apelativos e óbvios - é de se reparar, por exemplo, como trilha sonora repleta de canções pop é invasiva e ostensiva, fazendo tudo parecer em vários momentos um fotogênico video-clip. E aquilo que era para se converter numa espécie de viagem sensorial de autodescobertas e hedonismo, na prática é apenas uma junção de formalismo cartão-postal e encenação embregalhada. Ou seja, "Sobre viagens e amores" parece a versão "novela mexicana" da obra-prima "E sua mãe também" (2001).
Nenhum comentário:
Postar um comentário