A incorporação do herói aracnídeo ao universo oficial
cinematográfico dos estúdios Marvel tem como principal fator positivo o fato de
que a caracterização do protagonista em questão ter ficado bem mais carismática
e fiel ao original dos quadrinhos do que aquela que se configurou nos insossos
dois filmes dirigidos por Marc Webb. Outra boa sacada de “Homem-Aranha: De
volta ao lar” (2017) é que o roteiro dispensa a tarefa de contar novamente a
origem do personagem e parte logo para uma nova situação na vida do Aranha e de
seu alter-ego Peter Parker, o que torna a narrativa bem mais dinâmica (afinal,
o herói já aparece logo na trama em plena ação). Outra bola dentro: o Abutre
(Michael Keaton) é disparado um dos vilões mais convincentes dentro das
franquias cinematográficas dos Estúdios Marvel. Aliás, a figura do antagonista
evidencia, ainda que de maneira discreta, um subtexto sócio-político típico do
conturbado período histórico que vivemos: ainda que as opções criminosas do
personagem em questão sejam consequências de ações opressoras e injustas por
parte do Estado, as resoluções da trama indicam a necessidade da manutenção do
status quo. À parte esse direcionamento conservador em seu discurso, o filme do
diretor Jon Watts se adequa ao padrão de qualidade formal e narrativo típico da
maioria de tais produções que se conectam nesse mesmo universo – as sequências
de ação são movimentadas e divertidas, boa parte dos personagens tem razoável
caracterização psicológica, a trama resgata alguns dos principais elementos
essenciais dos quadrinhos. No geral, entretanto, o resultado final em termos
criativos é previsível e destituídos de maiores ousadias temáticas e estéticas,
ou seja, é bom entretenimento, mas bem distante, por exemplo, da vertiginosa
fúria sensorial do “Homem-Aranha 2” (2004) de Sam Raimi. Além disso, a trama sugere
que é apenas preparação para voos futuros mais épicos. Nesse sentido, é
inegável que cria expectativa para o que ainda vem por aí.
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