O universo imaginário-artístico de “Além da ilusão” (2016)
se assemelha ao da obra imediatamente anterior da diretora Rebecca Zlotowski, “Grand
Central” (2016), configurando-se como obras marcadas por uma atmosfera de
romantismo mórbido e um certo classicismo em seu formalismo. Nesse trabalho
mais recente da cineasta, há até uma preponderância maior para a estilização
narrativa, além de um subtexto mais sofisticado e nebuloso na sua visão de uma
Paris tomada pelo nazismo e a alienação mística. Aliás, é fascinante o paralelo
que se estabelece entre a atração pelo mundo metafísico e a paixão pelo mundo
de fantasias da indústria cinematográfica – a necessidade dos personagens por
alguma espécie de magia transcendental se vincula a um papel ambíguo, tanto no
sentido de ser uma válvula de escape perante uma realidade de opressão
sócio-cultural quanto um instrumento obscurantista que impede que os indivíduos
contestem esse mesmo ordenamento de opressão. Tal discurso existencial vem
embalado por um roteiro de notáveis sutilezas e por uma estética requintada em
suas nuances imagéticas, fazendo com que as soluções criativas de “Além da
ilusão” soem obscuras e atraentes na forma com que se recusam a apresentar
caminhos fáceis para o espectador.
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