O que mais incomoda em “Mulher do pai” (2016) é a sua
rigorosa previsibilidade. E não só em termos de roteiro – o filme da diretora
Cristiane Oliveira obedece a uma lógica narrativa óbvia e que beira a preguiça
criativa. Fotografia e edição são corretas em sua concepção e execução,
oferecendo uma moldura formal adequada no retrato de um interior rio-grandense rústico,
melancólico e algo tedioso. Tais aspectos estéticos esbarram, entretanto, numa
encenação travada e na falta de uma maior ousadia artística-existencial. A
história de descobertas morais e sentimentais por parte de personagens
adolescentes já foi retratada várias vezes no cinema e em alguns casos rendeu obras
memoráveis, principalmente pelo motivo de seus realizadores privilegiarem o
vigor narrativo, o que não é o caso de “Mulher do pai”. Os elementos cênicos
são dispostos na tela de maneira burocrática, como se a cineasta seguisse as
regras de um manual do gênero “drama de formação”. Por outro lado, mesmo a
temática da produção transpira um incômodo subtexto genérico e moralista, quase
pudico. Em uma obra que tem o despertar sexual como um dos seus principais
motes dramáticos, o erotismo poucas vezes se manifesta de forma gráfica e
contundente (na realidade, há apenas uma efetiva sequência de sexo, e mesmo
assim tendo uma prostituta em cena). A questão do incesto se desenvolve sob uma
desgastada perspectiva carregada de simbologia cristã pequeno-burguesa. Nesse
sentido, não há como esquecer o recente “Sangue azul” (2014), que destroça tal
percepção obscurantista a partir de um ideário libertário e poético.
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