sexta-feira, julho 21, 2017

Dick Tracy, de Warren Beatty ****

Adaptar histórias em quadrinhos para o cinema não é propriamente uma novidade e nos últimos anos se tornou uma prática recorrente nos grandes estúdios norte-americanos, principalmente por motivos comerciais. Na grande maioria desse tipo de produções, a transposição de uma mídia para a outra obedece a uma fórmula simples – pega-se personagens e situações marcantes de uma HQ, ou seja, uma trama originária de “comics”, e se enquadra tais elementos dentro de uma linguagem cinematográfica tradicional. São poucas os filmes que enveredam por uma via criativa mais ousada e interessante que seria a de incorporar a estética característica dos quadrinhos. Pois é justamente isso que “Dick Tracy” (1990) coloca em prática e com muita inspiração. Encenação, narrativa e caracterização visual emulam de maneira brilhante os maneirismos típicos das histórias do clássico detetive escritas e desenhadas por Chester Gould. Nesse sentido, a produção dirigida e estrelada por Warren Beatty apresenta nuances extraordinárias, como a fotografia baseada em monocromatismos concebida por Vittorio Storaro, a direção de arte fortemente estilizada e as atuações do elenco vinculadas a uma síntese entre o grotesco e o ingênuo, além do excepcional trabalho de efeitos visuais que combina de maneira fluida efeitos digitais, maquetes e cenografia à moda antiga, dando ao filme uma estranha atmosfera de atemporalidade. Aliás, “Dick Tracy” parece nem ter vindo de um grande estúdio devido à maneira natural com que violência cartunesca e singeleza maniqueísta convivem no mesmo universo. Dentro desse particular conjunto artístico, o filme de Beatty ocupa um espaço privilegiado de obras memoráveis como “Danger Diabolik” (1968), “Sin City” (2005) e “Scott Pilgrim contra o mundo” (2010).

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Uma pena que não houve outras aventuras do personagem para o cinema