Adaptar histórias em quadrinhos para o cinema não é
propriamente uma novidade e nos últimos anos se tornou uma prática recorrente
nos grandes estúdios norte-americanos, principalmente por motivos comerciais.
Na grande maioria desse tipo de produções, a transposição de uma mídia para a
outra obedece a uma fórmula simples – pega-se personagens e situações marcantes
de uma HQ, ou seja, uma trama originária de “comics”, e se enquadra tais
elementos dentro de uma linguagem cinematográfica tradicional. São poucas os
filmes que enveredam por uma via criativa mais ousada e interessante que seria
a de incorporar a estética característica dos quadrinhos. Pois é justamente
isso que “Dick Tracy” (1990) coloca em prática e com muita inspiração.
Encenação, narrativa e caracterização visual emulam de maneira brilhante os
maneirismos típicos das histórias do clássico detetive escritas e desenhadas
por Chester Gould. Nesse sentido, a produção dirigida e estrelada por Warren
Beatty apresenta nuances extraordinárias, como a fotografia baseada em monocromatismos
concebida por Vittorio Storaro, a direção de arte fortemente estilizada e as
atuações do elenco vinculadas a uma síntese entre o grotesco e o ingênuo, além
do excepcional trabalho de efeitos visuais que combina de maneira fluida
efeitos digitais, maquetes e cenografia à moda antiga, dando ao filme uma estranha
atmosfera de atemporalidade. Aliás, “Dick Tracy” parece nem ter vindo de um
grande estúdio devido à maneira natural com que violência cartunesca e
singeleza maniqueísta convivem no mesmo universo. Dentro desse particular
conjunto artístico, o filme de Beatty ocupa um espaço privilegiado de obras
memoráveis como “Danger Diabolik” (1968), “Sin City” (2005) e “Scott Pilgrim
contra o mundo” (2010).
Um comentário:
Uma pena que não houve outras aventuras do personagem para o cinema
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