Em termos de estrutura narrativa, a produção francesa “Más
notícias para o Sr. Mars” (2015) beira a banalidade devido a alguns excessos de
convencionalismos formais e temáticos. O que desperta curiosidade em relação ao
filme é a oscilação entre sobriedade e exagero de sua encenação e a riqueza
simbólica de seu subtexto. O diretor Dominik Moll consegue extrair uma
interessante atmosfera mista de pesadelo e paranoia, em que a caracterização
dos personagens e situações apresenta uma forte carga opressiva que destila um
incómodo mal-estar existencial. Tal concepção se mostra em sintonia com um
roteiro que parece refletir em suas nuances cômicas e dramáticas os dilemas e
contradições da sociedade europeia contemporânea. A figura do protagonista
Philippe Mars (François Damiens), um amargo burocrata perplexo com as
complexidades e estranhezas do mundo que o cerca, parece representar o
tradicional indivíduo ocidental incapaz de lidar com a nova ordem mundial na
sua desumanizada visão sócio-econômica (representada pela arrivista filha mais
velha do personagem principal) e com a própria reação cultural a esse
ordenamento (concentrada, por outro lado, na figura do contestador e ingênuo
caçula). Se tais analogias da trama soam simples, é inegável também que com o
desenvolver da narrativa oferecem considerável tensão dramática e irônica para
a obra, ainda que as conciliadoras e forçadas resoluções finais do roteiro
tirem um pouco da contundência da visão crítica do filme.
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