Em um primeiro momento, pode-se dizer que o longa-metragem
de estreia do diretor norte-americano Spike Lee, “Ela quer tudo” (1986),
funcionou como uma espécie de laboratório de ideias que foram desenvolvidas de
forma mais amadurecida em produções posteriores do cineasta. É evidente também
um certo charme amador em algumas passagens, muito mais fruto dos recursos de
produção mais modestos do que propriamente por descuidos formais de Lee. Ainda
assim, esse filme continua a ser um dos trabalhos mais fulgurantes e singulares
do diretor, assim como um dos marcos fundamentais do cinema independente dos
Estados Unidos nos anos 80 ao lado de obras como “Estranhos no paraíso” (1984) e
“Gosto de sangue” (1984). Narrativa e estética são caracterizadas em uma
original síntese de hiper-realismo e estilização, sendo que tal abordagem artística
está em notável sintonia com um roteiro de expressivo teor libertário e
humanista e que também tem como ponto forte um sutil e cortante senso de
ironia. Já a encenação concebida por Lee a sua direção de atores apontam um
rumo muito particular e ousado, no sentido de se mostrar distante de mofados clichês
dramáticos de atmosfera e interpretação. Essa liberdade criativa recebe um
complemente preciso nos belos temas harmônicos e melódicos da trilha sonora de
Bill Lee. No cômputo geral, “Ela quer tudo” é um exemplar enfático daquela
linhagem de obras em que a economia de recursos acaba por extrair o máximo de
suas potencialidades artísticas.
2 comentários:
Comecei a acompanhar o blog há, pelo menos, uns 8 ou 9 anos atrás até o meu blog (antigo musicaecerveja) ser desativado. Como é bom saber que continua na ativa, gosto bastante das suas críticas.
Abraços!
Olá.
Bah, valeu pelos elogios! Tens de retomar o teu blog!
Abraços!
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