terça-feira, agosto 14, 2018

Ela quer tudo, de Spike Lee ****


Em um primeiro momento, pode-se dizer que o longa-metragem de estreia do diretor norte-americano Spike Lee, “Ela quer tudo” (1986), funcionou como uma espécie de laboratório de ideias que foram desenvolvidas de forma mais amadurecida em produções posteriores do cineasta. É evidente também um certo charme amador em algumas passagens, muito mais fruto dos recursos de produção mais modestos do que propriamente por descuidos formais de Lee. Ainda assim, esse filme continua a ser um dos trabalhos mais fulgurantes e singulares do diretor, assim como um dos marcos fundamentais do cinema independente dos Estados Unidos nos anos 80 ao lado de obras como “Estranhos no paraíso” (1984) e “Gosto de sangue” (1984). Narrativa e estética são caracterizadas em uma original síntese de hiper-realismo e estilização, sendo que tal abordagem artística está em notável sintonia com um roteiro de expressivo teor libertário e humanista e que também tem como ponto forte um sutil e cortante senso de ironia. Já a encenação concebida por Lee a sua direção de atores apontam um rumo muito particular e ousado, no sentido de se mostrar distante de mofados clichês dramáticos de atmosfera e interpretação. Essa liberdade criativa recebe um complemente preciso nos belos temas harmônicos e melódicos da trilha sonora de Bill Lee. No cômputo geral, “Ela quer tudo” é um exemplar enfático daquela linhagem de obras em que a economia de recursos acaba por extrair o máximo de suas potencialidades artísticas.

2 comentários:

Rafhael Vaz disse...

Comecei a acompanhar o blog há, pelo menos, uns 8 ou 9 anos atrás até o meu blog (antigo musicaecerveja) ser desativado. Como é bom saber que continua na ativa, gosto bastante das suas críticas.

Abraços!

André Kleinert disse...

Olá.
Bah, valeu pelos elogios! Tens de retomar o teu blog!
Abraços!