A combinação de drama intimista, teor sócio-político e
realismo fantástico engendrada pela diretora Beatriz Seigner em “Los silêncios”
(2018) não se configura em uma narrativa sempre equilibrada. Isso se compensa,
entretanto, por alguns momentos de pungência arrebatadora. A forma com que os
planos do real e do metafísico se relacionam revela engenhosidade formal e sensibilidade
temática por parte do filme. Mesmo não se recorrendo a trucagens, há uma
fluência natural na forma com que situações e personagens transitam entre a
encenação naturalista e a caracterização do metafísico. O roteiro foge dos
estereótipos fáceis da religiosidade cristã moralista e envereda em uma
intersecção criativa entre melancólicas assombrações e forte e crítico
comentário sobre um cenário de exploração econômica e opressão armada no
interior da Colômbia. Há uma sutileza desconcertante e por vezes comovente na
forma com que fantasmas se manifestam no cotidiano de privações e trabalho duro
de um vilarejo na fronteira entre o Brasil e Colômbia. Seigner evita os truques
narrativos óbvios de melodrama convencional, privilegiando expressivos silêncios
e gestuais em sua encenação, além de uma certa crueza visual na concepção
imagética da direção de fotografia, o que não quer dizer que a obra não tenha
uma surpreendente beleza plástica rústica.
Um comentário:
"Los Silencios" constrói uma experiência bem detalhada e da qual nos convida para mergulharmos nela. A mensagem da diretora Beatriz Seigner é vista com clareza e em momentos de total potência. Em tempos de crise imigratória em diversas partes do mundo, o filme vem numa hora mais do que acertada. Saiba mais no meu blog.
https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2019/04/cine-dica-em-cartaz-los-silencios-o.html
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