terça-feira, setembro 15, 2015

Dois casamentos, de Luiz Rosemberg Filho ***

Em um primeiro momento, a linguagem antinaturalista e ambientação num palco escurecido fazem supor que “Dois casamentos” (2014) seria uma espécie de registro audiovisual de uma peça teatral. O desenvolvimento da narrativa, entretanto, mostra que o filme mais recente do diretor brasileiro Luiz Rosemberg Filho trafega por caminhos menos óbvios. A produção parece condensar ideias e truques estéticos que resultam num híbrido inquietante e vigoroso – estão lá o texto de conteúdo contestador da moral burguesa que evoca o estilo de Nelson Rodrigues, a utilização de uma trilha sonora de temas que variam de melodias dramáticas a estranhos drones, as atuações expressivas das atrizes baseadas na variação intensa entre o contido e o exagero, os efeitos visuais que evocam um clima de pesadelo (nesse sentido, a obra apresenta conexões com o cinema delirante de Luis Buñuel e David Lynch). Por vezes esse formalismo intrincado de Rosemberg leva a narrativa para um tom enfadonho, mas em outros momentos gera um efeito sensorial de encanto perturbador para o espectador.

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