Quando Jean-Luc Godard, François Truffaut, Eric Rohmer, Jacques
Rivette e companhia começaram a despontar tanto como críticos da Cahiers du
Cinema como diretores na Nouvelle Vague, em meados da década de 50, tal
movimento de talentos e ideias também representava uma reação contra o “cinema
francês de qualidade”. Em linhas gerais, tal designação se referia a um tipo de
filme que era formalmente competente na sua realização e agradável de ver, mas
que era nulo em termos criativos e de conteúdo, servindo apenas para satisfazer
um público médio pouco exigente. Passadas algumas décadas, parece que o cinema
da França se encontra em um beco sem saída estético semelhante àquele. Uma obra
como “Sobre amigos, amor e vinho” (2014) acaba sendo bem emblemática dessa
situação. Em sua premissa principal, o roteiro até busca um certo
questionamento existencial e social pertinente: a do pequeno burguês cinquentão
(Lambert Wilson) que após um ataque cardíaco passa a questionar suas relações
com a família, amigos e o mundo em geral. Tal viés crítico, entretanto, acaba
bastante atenuado ao receber um tratamento formal asséptico e despersonalizado.
Fotografia e edição parecem emular um vídeo institucional turístico de Lyon e
das idílicas paisagens interioranas francesas. Os próprios conflitos e dilemas da
trama passam por um filtro moralizante e conformista, o que aliado à caracterização
caricatural e simplória de personagens e situações retira qualquer
possibilidade de uma densidade dramática mais consistente para o filme.
Assumindo com orgulho o manto do “cinema francês de qualidade”, “Sobre amigos,
amor e vinho” está mais para um besteirol envergonhado do que para um pretenso
retrato de geração.
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