Geralmente, a relação do diretor Jonathan Demme com a música
pop é bastante produtiva. É só pensar nos antológicos filmes-concertos “Stop
making sense” (1984) e “Heart of Gold” (2006), além dos extraordinários “Totalmente
selvagem” (1986) e “O casamento de Rachel” (2008) que tinham suas respectivas
trilhas sonoras repletas de canções como um dos seus grandes pontos altos.
Assim, a expectativa para “Ricki and The Flash” (2015), cuja trama traz como
protagonista uma cantora e guitarrista (Meryl Streep) que lidera uma banda de
rock and roll que toca num pub, era bastante alta. O resultado final, entretanto,
acaba sendo decepcionante. Talvez a grande pisada na bola de Demme tenha sido
chamar a superestimada Diablo Cody como roteirista. A história até traz alguns
elementos sociais e intimistas interessantes, principalmente porque traz à tona
a atual divisão política acirrada que assola a sociedade dos Estados Unidos
entre liberais e conservadores. O problema é que a caracterização de situações e
personagens do texto de Cody é simplória e sem imaginação, o que acaba afetando
a própria encenação concebida por Demme, que se se efetiva de forma pálida e
por vezes até burocrática (é provável que a constante cara de sono de Kevin
Kline seja reflexo disso). Os dilemas dramáticos da história de “Ricki and The
Flash” lembram bastante aqueles de “O casamento de Rachel”, mas sem a crueza e a
ironia contundentes que marcavam esse último. O que faz valer o ingresso para a
produção são os faiscantes números musicais protagonizados pela banda do título
(aliás, uma reunião de cobras que já tocaram com gente como Neil Young e
Funkadelic) – Demme continua mestre na forma com que registra um show, tanto na
performance dos artistas quanto na reação da plateia. No final das contas,
parece que roteiro e encenação só serviram como pretexto para esses
sensacionais números musicais.
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