É inegável que há em “O último cine drive-in” (2014) algumas
boas sacadas formais. A direção de fotografia abusa de grandes planos, evocando
referências a faroestes clássicos, impressão essa ainda mais reforçada com a
trilha sonora que se vale de pastiches na linha Enio Morricone e afins. A opção
por esse estilo de composição visual valoriza também o próprio cenário da
trama, a cidade de Brasília – o estilo de geografia local, arquitetura e
disposição de ruas acabam tendo uma certa proximidade plástica com as longas
planícies e cidadezinhas que serviam de pano de fundo para boa parte do
westerns. Essas ideias estéticas interessantes, entretanto, acabam se revelando
insuficientes para sustentar uma narrativa formulaica e muito presa a clichês. Mesmo
que homenageie faroestes e que o roteiro e a direção de arte sejam repletos de
citações a outros filmes, a produção dirigida por Iberê Carvalho tem como guia
existencial o sentimental e superestimado “Cinema Paradiso” (1988), enquanto
que a demais citações cinematográficas são jogadas na narrativa mais como
enfeites a demonstrar uma suposta erudição cultural do que um recurso efetivo
em termos estéticos e temáticos. As interpretações rasas e sem carisma de boa
parte do elenco também não colaboram para que a obra atinja um nível artístico
um pouco mais transcendente. É de se questionar como um melodrama tão
convencional e cheirando a mofo como “O último cine drive-in” tenha sido
fartamente elogiado e premiado no Festival Gramado. Talvez seja revelador da
atual falta de identidade artística e cultural do evento.
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