terça-feira, setembro 08, 2015

O último cine drive-in, de Iberê Carvalho **

É inegável que há em “O último cine drive-in” (2014) algumas boas sacadas formais. A direção de fotografia abusa de grandes planos, evocando referências a faroestes clássicos, impressão essa ainda mais reforçada com a trilha sonora que se vale de pastiches na linha Enio Morricone e afins. A opção por esse estilo de composição visual valoriza também o próprio cenário da trama, a cidade de Brasília – o estilo de geografia local, arquitetura e disposição de ruas acabam tendo uma certa proximidade plástica com as longas planícies e cidadezinhas que serviam de pano de fundo para boa parte do westerns. Essas ideias estéticas interessantes, entretanto, acabam se revelando insuficientes para sustentar uma narrativa formulaica e muito presa a clichês. Mesmo que homenageie faroestes e que o roteiro e a direção de arte sejam repletos de citações a outros filmes, a produção dirigida por Iberê Carvalho tem como guia existencial o sentimental e superestimado “Cinema Paradiso” (1988), enquanto que a demais citações cinematográficas são jogadas na narrativa mais como enfeites a demonstrar uma suposta erudição cultural do que um recurso efetivo em termos estéticos e temáticos. As interpretações rasas e sem carisma de boa parte do elenco também não colaboram para que a obra atinja um nível artístico um pouco mais transcendente. É de se questionar como um melodrama tão convencional e cheirando a mofo como “O último cine drive-in” tenha sido fartamente elogiado e premiado no Festival Gramado. Talvez seja revelador da atual falta de identidade artística e cultural do evento.

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