Não há como escrever sobre “Que horas ela volta?” (2015) sem
falar sobre a atual conjuntura política e social que certa a obra. A pretensão
desse texto não é fazer uma análise sociológica e nem tentar simplifica
questões complexas, mas a verdade é que a grande maioria da sociedade
brasileira tem uma imensa dificuldade em discutir sobre temas espinhosos como
conflito de classes e preconceito social. Quando debates e mesmo obras
culturais versam sobre tais assuntos, geralmente, o direcionamento é de negar
ou minimizar a gravidade de tais situações. Diante desse quadro, acaba sendo
compreensível o impacto artístico e cultural que o filme de Anna Muylaert tem
causado. Ainda que a produção se formate segundo as regras de um melodrama
convencional e por vezes caia em soluções fáceis e conciliatórias para os
dilemas que o seu roteiro aborda (ou mesmo excessivamente caricaturais, como a
caracterização caricata da mãe pequeno burguesa), é inegável que Muylaert cria
uma narrativa envolvente e por vezes perpassada por um senso de humor bastante
afiado e perturbador (a sequência em que o pai de família pede a filha da doméstica
em casamento é antológica pelo alto grau de ácido sarcasmo). Além disso, “Que
horas ela volta?” traz alguns fortes trunfos como a bela trilha sonora composta
e executada por Fábio Trummer (líder da ótima banda pernambucana Eddie) e o
elenco que apresenta atuações luminosas de Camila Márdila e Lourenço Mutarelli –
esse último com uma excêntrica composição dramática que lembra o trabalho de
Jean-Claude Bernardet em “Periscópio” (2012)
Um comentário:
Lourenço Mutarelli estava show naquela cena da declaração.Enfim um dos melhores filmes do ano e espero que o público em geral reconheça isso.
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