quarta-feira, novembro 11, 2015

Dheepan - O refúgio, de Jacques Audiard ***1/2

O diretor francês Jacques Audiard teve uma interessante sacada narrativa em “Dheepan – O refúgio” (2015) ao formatar o filme dentro de uma estrutura clássica do gênero faroeste. É só observar os pontos chaves da trama. A migração do Sri Lanka para a França do ex-guerrilheiro Dheepan (Antonythasan Jesuthasan), da jovem Yalini (Kalieaswari Srinivasan) e da pequena Illayaal (Claudine Vinasithamby), estranhos entre si e que fingem ser uma família, fugindo de um cotidiano de guerra constante e privações em busca de estabilidade econômica e social traz clara relação com os pioneiros que séculos atrás desbravaram o selvagem oeste norte-americano em busca de uma vida melhor; a rotina conturbada da “família” em um condomínio popular francês dominado por traficantes remete ao dia-a-dia daqueles que conviviam com pistoleiros e assaltantes de bancos e diligências no velho oeste; o dilema existencial de Dheepan entre a recusa a assumir sua antiga condição de homem violento e homicida e a necessidade de preservar sua integridade física e daqueles que o cercam é o mesmo de anti-heróis antológicos como o William Munny da obra-prima “Os imperdoáveis” (1992). Por fim, a memorável e brutal sequência em que o protagonista invade sozinho um prédio repleto de marginais para resgatar Yalini é o correspondente das habituais cenas finais de duelos entre mocinhos e bandidos. Também é mérito de Audiard conseguir enquadrar de maneira orgânica e convincente essa espécie de faroeste contemporâneo dentro de uma perspectiva típica de um drama que varia de forma notável entre o social e o intimista. Nesse sentido, o caráter humanista de “Dheepan” é bastante acentuado na sua profunda e sensível caracterização psicológica de personagens e situações, qualidade essa que Audiard já tinha mostrado domínio em obras contundentes como “De tanto bater meu coração parou” (2005) e “O profeta” (2009) – essa última, por sinal, uma singular recriação do gênero “policial/gangster”.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Um dos grandes filmes do ano