terça-feira, junho 21, 2016

Big Jato, de Cláudio Assis ***1/2

Pelo menos em termos temáticos, não há grandes novidades em “Big Jato” (2015). Adaptando um original literário de Xico Sá, o filme mais recente do diretor Cláudio Assis é uma versão fílmica de um “romance de formação”, ou seja, de uma obra que versa sobre o processo de amadurecimento de um protagonista. Nesse sentido, estão lá os dilemas típicos desse tipo de produto cultural – os desejos e aspirações de um jovem, o duro aprendizado que a vida lhe oferece, suas desilusões amorosas, o desencanto com a falsa infalibilidade dos pais, a necessidade de expansão dos horizontes, a consequente despedida da casa familiar e até da própria cidade em que nasceu. Nesse sentido, até a cena de conclusão do filme é de talhe clássico e tradicional – o encontro entre o protagonista Francisco (Rafael Nicário) e o mar pela primeira vez. O fato da trama se passar numa cidade do interior do nordeste brasileiro também dá um caráter ainda mais simbólico para a obra, pois o tal processo de mudança existencial de Francisco também corresponde a alterações no quadro social da comunidade, numa nem tão sutil alusão elogiosa às mudanças provocas por mais de uma década de um governo de esquerda. Mas o que diferencia realmente o filme de Assis como uma produção acima da média em termos artísticos não é esse lado temático, mas sim a criatividade de seu formalismo e o lirismo de sua abordagem. É notável como a poesia se insere dentro da narrativa, tornando-se uma espécie de fio condutor da obra e que se reflete também numa encenação bastante livre e num elenco de composições dramáticas bastante pungentes. Nesse último quesito, destaque absoluto para Matheus Nachtergaele em sensacional papel duplo repleto de nuances, além do belo aproveitamento do cantor e compositor Jards Macalé como ator. Aliás, o lado musical de “Big Jato” é outra extensão criativa expressiva das particulares concepções artísticas de Assis, em que a combinação de eletrônica e regionalismo extraída por DJ Dolores mostra sintonia magnífica com a narrativa lírica elaborada pelo cineasta.


Num conjunto geral, “Big Jato” não é tão impressionante e mesmo impactante quanto “A febre do rato”, a obra-prima anterior dirigida por Cláudio Assis. Ainda assim, é uma experiência cinematográfica memorável, mostrando um lado do cinema brasileiro que, independente da quantidade de público que arremata, continua forjando uma linguagem artística própria e ousada.

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