quarta-feira, junho 22, 2016

O tesouro, de Corneliu Porumboiu ***1/2

É irresistível fazer comparações esdruxulas para tentar dar uma ideia do que representa a produção romena “O tesouro” (2015). Uma delas é pensar em como seria o clássico de aventura juvenil “Os goonies” (1985) refilmado com adultos no lugar das crianças e adolescentes e com uma abordagem formal e temática de caráter naturalista, evocando muito do neorrealismo italiano. Tais associações podem realmente parecer insólitas, mas o filme dirigido por Corneliu Porumboiu é uma obra bastante surpreendente em sua concepção artística. O cerne da trama é a busca de um improvável tesouro na área de um sítio numa cidade interiorana e rural. Só que a contextualização da história obedece a critérios bastante vinculados a atual conjuntura econômica-social de grande parte do mundo ocidental, principalmente no que diz respeito ao cotidiano cinzento de uma sociedade capitalista marcada pelo desemprego e a exploração econômica. Nesse panorama, a busca por uma vida melhor a partir da busca de riquezas improváveis acaba soando como um alento diante de uma realidade opressiva e desesperançada. A encenação proposta por Porumboiu é engenhosa e original, não recorrendo aos truques habituais das aventuras norte-americanas para se concentrar numa interação mais humana entre os personagens e mesmo numa comicidade discreta que surge naturalmente de acordo com o absurdo ou ridículo de determinadas situações. A partir de tal direcionamento, o final feliz engedrado pelo roteiro surge com estranha fluência e um humanismo redentor. A própria canção que surge nos créditos finais, um irônico e algo épico rock industrial do grupo Laibach, é ilustrativa dessa reconstrução radical de um gênero apresentada em “O tesouro”.

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