É irresistível fazer comparações esdruxulas para tentar dar
uma ideia do que representa a produção romena “O tesouro” (2015). Uma delas é
pensar em como seria o clássico de aventura juvenil “Os goonies” (1985) refilmado
com adultos no lugar das crianças e adolescentes e com uma abordagem formal e
temática de caráter naturalista, evocando muito do neorrealismo italiano. Tais
associações podem realmente parecer insólitas, mas o filme dirigido por
Corneliu Porumboiu é uma obra bastante surpreendente em sua concepção
artística. O cerne da trama é a busca de um improvável tesouro na área de um
sítio numa cidade interiorana e rural. Só que a contextualização da história
obedece a critérios bastante vinculados a atual conjuntura econômica-social de
grande parte do mundo ocidental, principalmente no que diz respeito ao
cotidiano cinzento de uma sociedade capitalista marcada pelo desemprego e a
exploração econômica. Nesse panorama, a busca por uma vida melhor a partir da
busca de riquezas improváveis acaba soando como um alento diante de uma
realidade opressiva e desesperançada. A encenação proposta por Porumboiu é
engenhosa e original, não recorrendo aos truques habituais das aventuras
norte-americanas para se concentrar numa interação mais humana entre os
personagens e mesmo numa comicidade discreta que surge naturalmente de acordo
com o absurdo ou ridículo de determinadas situações. A partir de tal
direcionamento, o final feliz engedrado pelo roteiro surge com estranha
fluência e um humanismo redentor. A própria canção que surge nos créditos
finais, um irônico e algo épico rock industrial do grupo Laibach, é ilustrativa
dessa reconstrução radical de um gênero apresentada em “O tesouro”.
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