quinta-feira, junho 16, 2016

Cobain: Montage of Heck, de Brett Morgen ***1/2

O diretor Brett Morgen teve acesso a um rico (e praticamente inédito para o grande público) acervo de material de arquivo para realizar o documentário “Cobain: Montage of Heck” (2015), obra que versa sobre a vida do falecido líder do Nirvana. Só por isso o filme já valeria uma conferida. São vários trechos audiovisuais de shows e da vida doméstica do protagonista, depoimentos de Kurt em fitas-cassetes que acabam compondo uma espécie de diário pessoal, escritos e desenhos do artista. Além disso, há fartos depoimentos de parentes, amigos, companheiros de banda. Morgen pega todo esse material e dá uma unidade narrativa bastante funcional e envolvente. A ordem de apresentação da vida de Cobain é linear e cronológica, fazendo com que o filme seja bastante informativo e didático tanto para os admiradores de Nirvana e rock em geral quanto para aqueles que se interessam pelo conteúdo humano em si da história. Mas o que torna o documentário uma experiência memorável não é apenas esse seu caráter histórico (até porque há uma gama considerável de livros e filmes versando sobre a mesma matéria). O maior mérito de “Cobain: Montage of Heck” é que a obra joga o espectador para dentro da mente de Cobain, numa verdadeira jornada sensorial. Mais do que simplesmente reproduzir uma série de fatos biográficos, a abordagem de Morgen faz com que os aspectos pungentes dos dramas pessoais e dilemas artísticos do Cobain se tornem ainda mais intensos graças a criativas escolhas estéticas do diretor (é de se reparar, por exemplo, como as animações inspiradas nos desenhos e escritos de Kurt se casam com o áudio das fitas mencionadas com a sua voz). Todo esse direcionamento narrativo e emocional arquitetado por Morgen acaba se mostrando em sintonia existencial com a musicalidade a flor-da-pele de discos como “Nevermind” e “In utero”.

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