O diretor Brett Morgen teve acesso a um rico (e praticamente
inédito para o grande público) acervo de material de arquivo para realizar o
documentário “Cobain: Montage of Heck” (2015), obra que versa sobre a vida do
falecido líder do Nirvana. Só por isso o filme já valeria uma conferida. São
vários trechos audiovisuais de shows e da vida doméstica do protagonista, depoimentos
de Kurt em fitas-cassetes que acabam compondo uma espécie de diário pessoal,
escritos e desenhos do artista. Além disso, há fartos depoimentos de parentes,
amigos, companheiros de banda. Morgen pega todo esse material e dá uma unidade
narrativa bastante funcional e envolvente. A ordem de apresentação da vida de
Cobain é linear e cronológica, fazendo com que o filme seja bastante
informativo e didático tanto para os admiradores de Nirvana e rock em geral
quanto para aqueles que se interessam pelo conteúdo humano em si da história.
Mas o que torna o documentário uma experiência memorável não é apenas esse seu
caráter histórico (até porque há uma gama considerável de livros e filmes versando
sobre a mesma matéria). O maior mérito de “Cobain: Montage of Heck” é que a
obra joga o espectador para dentro da mente de Cobain, numa verdadeira jornada
sensorial. Mais do que simplesmente reproduzir uma série de fatos biográficos,
a abordagem de Morgen faz com que os aspectos pungentes dos dramas pessoais e
dilemas artísticos do Cobain se tornem ainda mais intensos graças a criativas
escolhas estéticas do diretor (é de se reparar, por exemplo, como as animações
inspiradas nos desenhos e escritos de Kurt se casam com o áudio das fitas
mencionadas com a sua voz). Todo esse direcionamento narrativo e emocional
arquitetado por Morgen acaba se mostrando em sintonia existencial com a
musicalidade a flor-da-pele de discos como “Nevermind” e “In utero”.
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