Talvez retratar os bastidores da concepção da coleção de
grife de moda não seja exatamente um grande atrativo para uma parcela
considerável do público de cinema. O que faz com que o documentário “Dior e eu”
(2014) tenha um alcance mais universal e não se restrinja apenas ao interesse
de iniciados, entretanto, é a abordagem do diretor Frédéric Tcheng. É claro que
o filme traz alguns detalhes técnicos sobre o ambiente da elaboração e
confecção de roupas e dos desfiles, mas a verdadeira tônica do filme é versar
sobre o significado existencial, artístico e mercadológico desse meio,
confrontando a importância da marca Dior com as aspirações e relações humanas
em volta do protagonista Ralf Simons, estilista que fará a sua primeira coleção
para a marca. Roteiro e estrutura narrativa não se acomodam a um simples drama
de superação, ainda que o aspecto emocional se mostre com uma sutileza
comovente. O documentário constrói uma atmosfera quase etérea ao focar a sensibilidade
e transcendência que envolve um projeto como esse. As pressões envolvendo
dinheiro e prestígio estão lá, mas uma das grandes sacadas de Tcheng é expor
isso com sutileza e mesmo ironia, confrontando tais aspectos junto a
personalidade serena e algo delicada de Simons. O cotidiano de tensão na
idealização e feitura da coleção e as sequências de desfile são retratados com
um misto de rigor e fascínio, dando para o mundo da moda uma grandeza
expressiva e transcente mesmo para os olhos daqueles que não entendem muito do
assunto.
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