Os irmãos Taviani se permitem algumas ousadias em sua
adaptação para a tela de grande de “Decamerão”. Em “Maravilhoso Boccaccio”
(2015), logo no início, criam um preâmbulo bem diferente daquele da obra
original, dando um caráter mais trágico e melancólico para a narrativa. Tal
abordagem se torna predominante ao longo do filme – o requinte visual e o
elegante trabalho de edição dão à produção uma atmosfera solene. Por vezes esse
direcionamento artístico soa um tanto incômodo, dando uma impressão de assepsia
formal que pode tornar o espectador indiferente ao filme, fazendo com que a
qualidade atemporal das histórias criadas por Boccaccio sejam o principal
gancho de interesse. Nesse sentido, tal concepção tem um resultado final
frustrante se houver comparação com a magnífica e definitiva recriação cinematográfica
do mesmo texto literário pelo mestre Pier-Paolo Pasolini e também se vier à
mente o antológico resgate de Shakespeare pelos próprios Taviani em “César deve
morrer” (2012). Nesse sentido, também não para esquecer a fenomenal adaptação
que eles fizeram de histórias de Pirandello em “Kaos” (1984). Mas ainda que não
esteja nesse panteão de obras memoráveis, “Maravilhoso Boccaccio” é um trabalho
capaz de gerar interesse pelo simples fato de os irmãos diretores serem
artistas muito acima da média, em que mesmo num trabalho menor conseguem
transparecer quesitos notáveis como direção de arte esmerada, fotografia
deslumbrante em algumas sequências e uma encenação repleta de achados
dramáticos.
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