quarta-feira, junho 15, 2016

Mais forte que bombas, de Joachim Trier ****

A estrutura narrativa de “Mais forte que bombas” (2015) remete a um melodrama familiar tradicional. Pelo menos na parte temática, estão lá boa parte dos elementos temáticos geralmente presentes no gênero: conflitos de gerações, situações limites que levam a reavaliações pessoais, expiações de culpas. Mesmo o lado formal do filme, em sua superfície, mostra o apego por uma abordagem mais clássica. São em pequenas nuances, entretanto, que a obra do diretor norueguês Joachim Trier se mostra como algo diferenciado. Dentro do roteiro, são inseridas com sutileza questões sociais e políticas, fazendo com que o microverso intimista de relações dentro de uma família e daqueles que orbitam em sua volta seja um reflexo metafórico do conjunto de valores da sociedade ocidental contemporânea. Nesse sentido, a visão do filme sobre tais questões foge da obviedade e do moralismo obtuso, o que fica bastante evidenciado na forma com que o personagem Conrad (Devin Druid) é caracterizado – numa engenhosidade narrativa de Trier, num primeiro momento o espectador enxerga apenas as perspectivas de seu pai Gene (Gabriel Byrne) e de seu irmão mais velho Jonah (Jesse Eisenberg), em que Conrad é retratado de forma genérica como um adolescente alienado, mas com o desenrolar da trama a perspectiva dominante passa a ser a do garoto, e é nesse momento que hipocrisias e elementos disfuncionais são desmascarados de maneira contundente. Dentro de tal concepção de ideias humanistas, as soluções estéticas de Trier caem como uma luva pela elegância e originalidade de sua execução, fazendo com que dentro da narrativa sejam incorporadas com naturalidade influências e referências diversas de outras mídias, como técnicas documentais de noticiários televisivos, maneirismos de games eletrônicos e uma narração de textos literários. No conjunto de tais soluções artísticas, aliado a uma extraordinária trilha sonora e a um elenco com um punhado de expressivas interpretações, resulta um dos melhores trabalhos cinematográficos a chegarem nos cinemas nacionais no corrente ano.

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