A estrutura narrativa de “Mais forte que bombas” (2015) remete
a um melodrama familiar tradicional. Pelo menos na parte temática, estão lá boa
parte dos elementos temáticos geralmente presentes no gênero: conflitos de
gerações, situações limites que levam a reavaliações pessoais, expiações de
culpas. Mesmo o lado formal do filme, em sua superfície, mostra o apego por uma
abordagem mais clássica. São em pequenas nuances, entretanto, que a obra do
diretor norueguês Joachim Trier se mostra como algo diferenciado. Dentro do
roteiro, são inseridas com sutileza questões sociais e políticas, fazendo com que
o microverso intimista de relações dentro de uma família e daqueles que orbitam
em sua volta seja um reflexo metafórico do conjunto de valores da sociedade
ocidental contemporânea. Nesse sentido, a visão do filme sobre tais questões
foge da obviedade e do moralismo obtuso, o que fica bastante evidenciado na
forma com que o personagem Conrad (Devin Druid) é caracterizado – numa engenhosidade
narrativa de Trier, num primeiro momento o espectador enxerga apenas as
perspectivas de seu pai Gene (Gabriel Byrne) e de seu irmão mais velho Jonah
(Jesse Eisenberg), em que Conrad é retratado de forma genérica como um
adolescente alienado, mas com o desenrolar da trama a perspectiva dominante
passa a ser a do garoto, e é nesse momento que hipocrisias e elementos
disfuncionais são desmascarados de maneira contundente. Dentro de tal concepção
de ideias humanistas, as soluções estéticas de Trier caem como uma luva pela
elegância e originalidade de sua execução, fazendo com que dentro da narrativa
sejam incorporadas com naturalidade influências e referências diversas de
outras mídias, como técnicas documentais de noticiários televisivos,
maneirismos de games eletrônicos e uma narração de textos literários. No
conjunto de tais soluções artísticas, aliado a uma extraordinária trilha sonora
e a um elenco com um punhado de expressivas interpretações, resulta um dos
melhores trabalhos cinematográficos a chegarem nos cinemas nacionais no
corrente ano.
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