O cineasta francês François Ozon parece ser uma espécie de
cronista dos costumes da sociedade francesa pequeno burguesa contemporânea.
Seus filmes geralmente versam sobre os desejos, os dilemas e as hipocrisias que
rondam as relações humanas nessa faixa social, mantendo uma abordagem narrativa
que ora envereda pelo melodrama contido, ora pela comédia de sutil ironia. “Uma
nova amiga” (2015) é exemplar típico do estilo de Ozon – ao mostrar a
trajetória de David (Romain Duris), homem que após enviuvar da jovem esposa
passa a se travestir de mulher e acaba tendo um caso com a melhor amiga da
falecida (Anaïs Demoustier), o diretor evita o sensacionalismo apelativo e
estéril, procurando ressaltar mais uma atmosfera perturbadora, misto de atração
e repulsa, além de inserir interessantes nuances psicanalíticas e simbólicas dentro
do roteiro. Não chega a ser exatamente uma obra arrebatadora, mas tem uma
narrativa envolvente e que por vezes surpreende com seus desdobramentos entre o
trágico e o cômico. Além disso, o trabalho de direção de atores revela notável
cuidado, principalmente na excelente composição dramática de Duris, que de
maneira natural e progressiva passa a adotar gestual e expressões femininos sem
cair no caricatural.
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