O diretor australiano Brian Trenchard-Smith, bastante ativo
nos anos 70 e 80 com filmes na linha exploitation, tem Quentin Tarantino como
um dos seus grandes admiradores confessos. Ao se assistir a “Drive-in da morte”
(1982) se pode entender o motivo de tal admiração. O filme é uma brilhante
síntese entre ficção científica apocalíptica casca grossa, filme de gangues
adolescentes e parábola sócio-política, algo como uma combinação entre “Mad Max”,
comédias adolescentes oitentistas de John Hughes e a visão sombria de um futuro
distópico de “1984” de George Orwell. A direção de Trenchard-Smith é fenomenal
ao entrelaçar essas referências diversas com notável coesão e naturalidade. A encenação
é exagerada, operística mesmo, evidenciada nas coreografias quase delirantes de
lutas e nas alucinadas sequências automobilísticas, mas ao mesmo tempo revela
surpreendente sutileza ao ressaltar as nuances contundentes do subtexto do
roteiro que discorre sobre preconceitos sociais e raciais, alienação e
violência estatal. A direção de arte também é peça fundamental dentro da
originalíssima concepção artística da produção, em que o mau gosto de figurinos
e os cenários urbanos em ruínas colaboram na perturbadora atmosfera de sordidez
e opressão que paira sobre a narrativa, impressão essa reforçada pela fotografia
“realismo neon” que era bem característica da época. Voltando a fazer
comparações, o formalismo insólito e a abordagem temática de Trenchard-Smith
remetem a um Walter Hill dirigindo “Ruas de fogo” (1984) entupido de
anfetaminas e transbordando revolta política.
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