Documentários sobre música virou uma prática mais que
recorrente no cinema brasileiro contemporâneo. Praticamente todos os grandes
nomes do cancioneiro nacional e os gêneros mais expressivos do país já
mereceram um filme (alguns, até mais que um). Até mesmo a apreciação de tais
obras, tanto por parte de público quanto de crítica, acaba recebendo uma
abordagem diferenciada, pois mesmo quando a produção em si não é grande coisa,
o fato de estar trazendo para a tela grande a arte e a vida de algum grande nome
ou os meandros de um estilo muito estimado acaba tornando a experiência
cinematográfica em questão algo no mínimo válido. Dentro desse panorama, “Yorimatã”
(2014) se mostra como uma obra singular. Ao abordar a trajetória artística e
pessoal da dupla de compositoras e cantoras Luhli e Lucina, o documentário do
diretor Rafael Saar cumpre um papel multifacetado, afetando o espectador por
diversos fatores – é informativo e didático por tornar mais conhecidos fatos
relativos a artistas que são obscuras para o grande público (apelar delas terem
composto sucessos antológicos para os Secos e Molhados e para a carreira solo
de Ney Matogrosso); é sensorialmente rico ao conseguir transformar em narrativa
visual a musicalidade expansiva de suas biografadas; é pungente ao evidenciar a
sensibilidade à flor-da-pele e o caráter libertário da arte e vida das
protagonistas; é estimulante na sua dinâmica cinematográfica, ao combinar com
concisão e leveza os elementos tradicionais desse tipo de produção (números
musicais, imagens de arquivo, depoimentos e imagens contemporâneos). O
resultado das acertadas escolhas estéticas e temáticas de Saar é um
documentário de narrativa que encanta sem fazer perceber as horas passando e
que dá uma baita vontade de ir atrás dos discos e canções de Luhli e Lucina. O
que mais poderia se esperar de um documentário musical?
Um comentário:
Gostei bastante
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