A narrativa em “Paulina” (2015) tem o seu desenvolvimento
obedecendo a princípios dialéticos. Os primeiros momentos do filme, registrados
praticamente num plano-sequência austero, mostram um conflito verbal entre a
protagonista Paulina (Dolores Fonzi) e seu pai Fernando (Oscar Martinez), em
que cada personagem teoriza e fundamenta seus respectivos comportamentos e
ideários contrastantes, ainda que ambos pareçam alinhados a uma ideologia de
esquerda. Na penúltima sequência da produção, eles voltam a duelar
existencialmente, só que dessa vez entra em cena toda a dura experiência de
vida da personagem principal para ilustrar um posicionamento de vida coerente e
humanista, desconcertando os valores pequeno-burgueses hipócritas da figura
patriarcal. Entre as duas sequências citadas, há um desenvolvimento marcado por
uma rigorosa construção formal e temática. Direção de fotografia e edição
obedecem a um direcionamento naturalista que não se aventura em grandes
arroubos estéticos, mas que oferecem a moldura narrativa ideal que amplifica
ainda mais a complexidade do roteiro, em que os preceitos mais caros de uma sociedade
marcada pelo sexismo, injustiça social e repressão estatal são desconstruídos
de maneira sutil e perturbadora. Num primeiro momento, as escolhas de Paulina
em como proceder ética e moralmente após ter sido estuprada por um grupo de
camponeses podem parecer radicais e insólitas, mas aos poucos vão revelando um
sentido humano desconcertante e desafiador.
Um comentário:
Um filme que toca em assuntos delicados de hoje e que não deve ser ignorado.
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