A essa altura do campeonato, talvez mais um filme trazendo a
figura de Tarzan como protagonista poderia parecer um tanto anacrônico. Diante
de algumas circunstâncias culturais e sociais contemporâneas, entretanto, esse “A
lenda de Tarzan” (2016) acaba ganhando inesperadas ressonâncias. O fato do
diretor David Yates ser o responsável por esse novo capítulo da saga do antigo
herói pulp é bem sintomático, pois o cineasta foi o realizador de alguns
episódios da franquia “Harry Potter” e nessa nova produção com Tarzan dá para
perceber que houve uma espécie de readequação do personagem dentro dos
preceitos formais e narrativos típicos das produções de aventura fantástica desse
século, tanto no uso expansivo de efeitos digitais quanto na profusão de
sequências alucinadas de ação. É claro que pelo uso de tais recursos por vezes
o filme soe um pouco derivativo (em alguns momentos, há a impressão de que
Tarzan está fazendo parte do cinematográfico universo Marvel), mas também é
fato que Yates apresenta uma direção segura no sentido de conseguir manter uma
tensão dramática efetiva, um cuidado visual expressivo e uma atmosfera de
violência e exotismo que garante interesse para o espectador. Também é curioso
como o subtexto político do roteiro, mostrando as desumanas práticas
colonialistas de países europeus no continente africano em séculos passados,
ganha uma sintonia contundente com o presente conturbado cenário sócio-político
mundial envolvendo terrorismo, racismo e xenofobia.
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