As duas melhores animações norte-americanas de 2016 têm pelo
menos algo em comum: suas tramas giram em torno de animais, com a personalidade
de suas principais figuras se relacionando com as características dos bichos
que a inspiraram. Mas se “Zootopia” é uma fantasia com animais
antropomorfizados evocando também personalidades humanas e temática pertinente
e mais complexa, em “Pets – A vida secreta dos bichos” as criaturas são e agem
como animais de estimação (é claro que com a licença poética de que conversam
entre eles) e a história apresenta uma premissa mais simples, a de que cães,
gatos e outros seres afins fariam em casa enquanto seus donos vão trabalhar,
acrescentando ainda na trama uma dose de aventura com seus protagonistas percorrendo
um grande e agitado centro urbano (no caso, Nova Iorque). A partir desses
elementos básicos, os diretores Yarrow Cheney e Chris Renaud conseguem criar
uma obra divertida e emocionante, e que se permite ainda algumas ousadias. Para
começar, a dimensão psicológica dos personagens é convincente e variada,
combinando emoções e índoles diversas (fidelidade, ciúme, ressentimento,
melancolia) e com o aspecto fantástico delineado com criatividade (o cachorro
de raça que ouve heavy metal quando o dono está fora de casa, o passarinho que
gosta de jogar vídeo game, o coelho alucinado que lidera uma rebelião de
rejeitados), criando uma forte empatia com o espectador (principalmente com
aqueles que tem animais de estimação, obviamente). As nuances emocionais do
roteiro interagem de maneira natural e coesa com os momentos de ação frenética.
Aliás, nesse último quesito, também é de se destacar o belo trabalho gráfico de
“Pets”, tanto pela beleza do traço quanto no detalhismo da ambientação da
história (é de se reparar, por exemplo, o visual assustador dos esgotos da
cidade). E por falar em ambientação, é interessante como Nova Iorque se torna
uma personagem com vida própria no filme, pois se num primeiro momento o
registro visual da metrópole dá a impressão de um grande cartão-postal, com o
desenvolvimento da trama a cidade vai ganhando um caráter mais obscuro e
misterioso na caracterização e tipos e situações, fazendo lembrar “Depois de
horas” (1985), a clássica comédia de humor negro de Martin Scorsese que mostra
o “wild side” da Grande Maçã.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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