terça-feira, agosto 30, 2016

Pets - A vida secreta dos bichos, de Yarrow Cheney e Chris Renaud ***1/2

As duas melhores animações norte-americanas de 2016 têm pelo menos algo em comum: suas tramas giram em torno de animais, com a personalidade de suas principais figuras se relacionando com as características dos bichos que a inspiraram. Mas se “Zootopia” é uma fantasia com animais antropomorfizados evocando também personalidades humanas e temática pertinente e mais complexa, em “Pets – A vida secreta dos bichos” as criaturas são e agem como animais de estimação (é claro que com a licença poética de que conversam entre eles) e a história apresenta uma premissa mais simples, a de que cães, gatos e outros seres afins fariam em casa enquanto seus donos vão trabalhar, acrescentando ainda na trama uma dose de aventura com seus protagonistas percorrendo um grande e agitado centro urbano (no caso, Nova Iorque). A partir desses elementos básicos, os diretores Yarrow Cheney e Chris Renaud conseguem criar uma obra divertida e emocionante, e que se permite ainda algumas ousadias. Para começar, a dimensão psicológica dos personagens é convincente e variada, combinando emoções e índoles diversas (fidelidade, ciúme, ressentimento, melancolia) e com o aspecto fantástico delineado com criatividade (o cachorro de raça que ouve heavy metal quando o dono está fora de casa, o passarinho que gosta de jogar vídeo game, o coelho alucinado que lidera uma rebelião de rejeitados), criando uma forte empatia com o espectador (principalmente com aqueles que tem animais de estimação, obviamente). As nuances emocionais do roteiro interagem de maneira natural e coesa com os momentos de ação frenética. Aliás, nesse último quesito, também é de se destacar o belo trabalho gráfico de “Pets”, tanto pela beleza do traço quanto no detalhismo da ambientação da história (é de se reparar, por exemplo, o visual assustador dos esgotos da cidade). E por falar em ambientação, é interessante como Nova Iorque se torna uma personagem com vida própria no filme, pois se num primeiro momento o registro visual da metrópole dá a impressão de um grande cartão-postal, com o desenvolvimento da trama a cidade vai ganhando um caráter mais obscuro e misterioso na caracterização e tipos e situações, fazendo lembrar “Depois de horas” (1985), a clássica comédia de humor negro de Martin Scorsese que mostra o “wild side” da Grande Maçã.

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