segunda-feira, agosto 01, 2016

Geraldinos, de Pedro Asbeg e Renato Martins ***

O documentário “Geraldinos” (2015), em termos existenciais, faz lembrar a produção norte-americana “A grande aposta” (2015) na leitura do subtexto de suas respectivas tramas, no sentido de que ambas trazem à tona a seguinte indagação: o que realmente move a sociedade contemporânea? A comparação pode soar um tanto esdruxula, no sentido de que o filme brasileiro tem como tema a paixão pelo futebol enquanto o trabalho dirigido por Adam McKay foca o ambiente da especulação financeira e imobiliária. Mas na conclusão das duas obras fica evidenciado que a verdadeira religião no mundo atual é o capitalismo, pois é ele que motiva tanto que uma ala popular (e barata) do Maracanã que abarcava milhares de torcedores humildes fosse destruída em nome do lucro de algumas poucas corporações como a derrocada econômica de milhões de trabalhadores para que alguns especuladores e rentistas faturassem alguns milhões de dólares a mais. Esse discurso melancólico e raivoso de “Geraldinos” é embalado por uma eficiente síntese formal que preserva a forte emotividade inerente ao assunto e lhe dá uma dinâmica narrativa envolvente na sua combinação de depoimentos (de torcedores, jornalistas, políticos e tecnocratas), imagens de arquivos antológicas e mesmo uma “encenação” espontânea e vibrante da rotina de personagens anônimos e folclóricos do mundo do futebol brasileiro, com direito, inclusive, a uma sequência particularmente memorável: aquela que mostra o ritual de preparação, de ida para o estádio e do ato de torcer de torcedores “geraldinos” do Fluminense e do Flamengo no dia do último Fla-Flu disputado no Maracanã antes da demolição da geral, tudo isso ao som de afro-funk endiabrado do grupo Bixiga 70.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Os documentários brasileiros estão em alta esse ano. Mal posso esperar para assistir Menino 23.