Como já foi dito num post anterior, pode-se dizer que o
diretor norte-americano Harmony Korine é uma espécie de cronista de uma
juventude perdida. Mas não se trata apenas de uma garotada chafurdando em
questionamentos existenciais ou à procura de um lugar na sociedade. As jovens
criaturas que vagam nas histórias de Korine são reflexos distorcidos (ou
reais?) dos modelos comportamentais mais caros da sociedade ocidental,
localizados entre uma síntese de hedonismo desesperado e embrutecimento
cultural. Em “Julien Donkey-Boy” (1999), o protagonista do título (Ewen
Bremner) é um pobre diabo esquizofrênico envolto em um cotidiano perturbador e algo
delirante, em que incesto e loucura estão presentes quase como se fossem algo
banal. Ainda que não atinja o mesmo pico criativo de “Gummo” (1997), obra de
temática parecida, Korine constrói uma narrativa fragmentada e inquietante, em
que mais importante do que mostrar um roteiro linear é o fato de se criar uma
atmosfera que se alterna de maneira contundente entre o realismo áspero e o
surrealismo sinistro.
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