quinta-feira, agosto 25, 2016

Julien Donkey-Boy, de Harmony Korine ***1/2

Como já foi dito num post anterior, pode-se dizer que o diretor norte-americano Harmony Korine é uma espécie de cronista de uma juventude perdida. Mas não se trata apenas de uma garotada chafurdando em questionamentos existenciais ou à procura de um lugar na sociedade. As jovens criaturas que vagam nas histórias de Korine são reflexos distorcidos (ou reais?) dos modelos comportamentais mais caros da sociedade ocidental, localizados entre uma síntese de hedonismo desesperado e embrutecimento cultural. Em “Julien Donkey-Boy” (1999), o protagonista do título (Ewen Bremner) é um pobre diabo esquizofrênico envolto em um cotidiano perturbador e algo delirante, em que incesto e loucura estão presentes quase como se fossem algo banal. Ainda que não atinja o mesmo pico criativo de “Gummo” (1997), obra de temática parecida, Korine constrói uma narrativa fragmentada e inquietante, em que mais importante do que mostrar um roteiro linear é o fato de se criar uma atmosfera que se alterna de maneira contundente entre o realismo áspero e o surrealismo sinistro.

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