segunda-feira, agosto 22, 2016

São Paulo em Hi-Fi, de Lufe Steffen **

O grande problema do documentário “São Paulo em Hi-Fi” (2013) não é muito difícil de resumir: a sua estrutura narrativa convencional e excessivamente mecânica não se encontra em sintonia com a sua temática complexa e irreverente. O diretor Lufe Stefren tinha uma matéria prima bastante rica para construir uma obra memorável ao mostrar a trajetória das casas noturnas gays da noite da capital paulista nas décadas de 60, 70 e 80 – depoimentos reveladores e emocionados de entrevistados que vivenciaram o período em questão, imagens de arquivo em profusão, temática bastante interessante. Ocorre que o espírito libertário do assunto que aborda não contaminou sua concepção formal excessivamente burocrática. A narrativa não consegue ter uma desenvoltura efetivamente capaz de prender a atenção do espectador. O padrão de encadeamento das cenas é cumprido com uma previsibilidade entediante: é sempre depoimento seguido de filmagens de apresentações na época, por vezes entremeado com algumas fotografias. Não há aquela narrativa dinâmica e ambientação apaixonada de “Geraldinos” (2015) ou aquele lirismo libertário à flor-da-pele de “Yorimatã” (2014). Faltou uma montagem mais criativa que combinasse todos esses elementos de uma maneira ágil e ousada, em que a estética complementasse a atmosfera mista de alegria, sordidez e nostalgia que emana da história contada. É claro que para efeitos históricos “São Paulo em Hi-Fi” é até uma experiência válida por retratar fatos um tanto obscuros para a grande maioria das pessoas. Como experiência cinematográfica, entretanto, é frustrante por suas escolhas artísticas bem comportadas.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Eu gostei bastante da obra