segunda-feira, agosto 15, 2016

De longe te observo, de Lorenzo Vigas Castes ***

O fato de ser uma produção venezuelana contemporânea não passa em branco na concepção artística e temática de “De longe te observo” (2015) – sua rigorosa e elegante estrutura narrativa é uma moldura adequada para uma visão amarga sobre o conflito de classes dentro de uma sociedade conturbada. A relação que se estabelece entre o protético homossexual de uma burguesia endinheirada Armando (Alfredo Castro) e o jovem pobre e marginal Elder (Luis Silva) é repleta de nuances e tem uma carga simbólica de uma interação que envolve exploração, intolerância, revolta e indiferença. A abordagem emocional e estética do diretor Lorenzo Vigas Castes não se rende a facilidades melodramáticas, captando com expressiva fidelidade a complexidade da relação entre os dois personagens principais. Além disso, sua encenação é elaborada com precisão tanto na valorização de silêncios e gestuais quanto no vigor contundente de algumas cenas (as sequências da festa de 15 anos e de sexo entre os dois protagonistas são exemplares dessa característica). “De longe te observo” só não atinge uma transcendência artística maior pela insistência, por vezes, numa ultrapassada atmosfera dramática de culpa na forma com que retrata a questão da homossexualidade de Armando, em que esse aspecto sempre é relacionado a traumas não bem explicados em sua biografia pessoal. Nesse sentido, por exemplo, falta um senso de autoironia que tornavam obras-primas como “Morte em Veneza”(1971)  e “Festa em família” (1998), obras que também traziam tal matéria em suas tramas, filmes melhores resolvidos em termos existenciais.

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