O fato de ser uma produção venezuelana contemporânea não
passa em branco na concepção artística e temática de “De longe te observo”
(2015) – sua rigorosa e elegante estrutura narrativa é uma moldura adequada
para uma visão amarga sobre o conflito de classes dentro de uma sociedade
conturbada. A relação que se estabelece entre o protético homossexual de uma
burguesia endinheirada Armando (Alfredo Castro) e o jovem pobre e marginal
Elder (Luis Silva) é repleta de nuances e tem uma carga simbólica de uma
interação que envolve exploração, intolerância, revolta e indiferença. A
abordagem emocional e estética do diretor Lorenzo Vigas Castes não se rende a
facilidades melodramáticas, captando com expressiva fidelidade a complexidade
da relação entre os dois personagens principais. Além disso, sua encenação é
elaborada com precisão tanto na valorização de silêncios e gestuais quanto no
vigor contundente de algumas cenas (as sequências da festa de 15 anos e de sexo
entre os dois protagonistas são exemplares dessa característica). “De longe te
observo” só não atinge uma transcendência artística maior pela insistência, por
vezes, numa ultrapassada atmosfera dramática de culpa na forma com que retrata
a questão da homossexualidade de Armando, em que esse aspecto sempre é
relacionado a traumas não bem explicados em sua biografia pessoal. Nesse
sentido, por exemplo, falta um senso de autoironia que tornavam obras-primas
como “Morte em Veneza”(1971) e “Festa em
família” (1998), obras que também traziam tal matéria em suas tramas, filmes
melhores resolvidos em termos existenciais.
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