quinta-feira, março 24, 2016

American Hardcore, de Paul Rachman ***

A estrutura narrativa de “American Hardcore” (2006) é básica como os poucos acordes que marcaram algumas das melhores canções do gênero musical ao qual radiografa. Para contar a história da cena dessa vertente do punk rock no período de 1980 a 1986, o diretor Paul Rachman se utilizou da velha combinação de depoimentos dos principais envolvidos no movimento com várias imagens de arquivos. Ok, não há grandes ousadias e inovações em tal estética, mas o fascinante contexto histórico e cultural que é focado e a paixão de Rachman e seus entrevistados em tratar do hardcore, assim como a maravilhosa música que há todo momento invade a tela, tornam esse documentário essencial e tremendamente divertido para quem tem interesse por contracultura e rock underground em geral. O hardcore norte-americano da primeira metade dos anos 80 foi ingrediente fundamental no rol de influências que ajudaram a fundamentar boa parte daquilo que os Estados Unidos tiveram de melhor em seu cenário musical nos anos seguintes até os dias de hoje, não só no aspecto musical como também na própria formatação de um cenário de pequenas e eficientes gravadoras independentes e um circuito de clubes e casas de shows fora da megalomania comercial de grandes arenas e estádios. Essa combinação entre selos e locais para tocar foi primordial para a divulgação de um produto cultural marcado pela radicalidade e desafio às instituições e costumes reacionários. E tudo isso numa época que marcava o renascimento com força total do conservadorismo político, econômico, social e cultural da Era Reagan. “American Hardcore” consegue captar essa atmosfera de conflito de maneira didática e empolgante, compondo um mosaico complexo e instigante de uma época. Talvez haja gente que não se interesse tanto pelo assunto em questão e ache o documentário de Rachman dispensável, mas provavelmente é aquele tipinho que acha o Maroon 5 o máximo em termos de rock ou o hipócrita travestido de revoltado que deseja a queda sem fundamentos legais e morais de um governo legítimo e voltado para questões sociais.

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