Nos últimos anos, há uma vertente no cinema brasileiro que
enveredou por caminhos artísticos mais ousados e radicais tanto na concepção
quanto na sua execução. Esse radicalismo não estaria concentrado
necessariamente no hermetismo da narrativa, mas sim na utilização de meios e
recursos que fogem daqueles que normalmente são usados na grande maioria das produções.
“Ela volta na quinta” (2014) é um reflexo dessa tendência forte em algumas
obras nacionais. O diretor André Novais de Oliveira criou uma trama baseado em
experiências cotidianas, em que os desdobres do roteiro obedecem a uma lógica
natural e de caráter humanista. Dentro desse espírito temático, suas escolhas
formais revelam uma desconcertante e notável coerência. Tendo parentes, amigos
e conhecidos como intérpretes de seu pequeno drama familiar, Novais de Oliveira
cria um conto moral repleto de expressiva carga simbólica. Mesmo que seus
atores sejam amadores, ele consegue criar uma encenação cativante através de
pequenos gestos, diálogos prosaicos e expressões que se alternam entre a
melancolia e a resignação. O cineasta tem notável senso imagético – a direção
de fotografia apresenta uma eficiente combinação entre simplicidade e requinte
visuais, principalmente em seus expressivos planos-sequência fixos.
Há um momento muito revelador das intenções estéticas do
diretor em “Ela volta na quinta”, que é a sequência em que os irmãos André e
Renato Novais de Oliveira ficam assistindo a montagens de vídeos no Youtube, em
que o primeiro disseca alguns truques de edição e mostra os resultados cômicos
para o irmão. É como se o cineasta deixasse claro um dos principais fundamentos
artísticos do seu filme, que é o de incorporar à encenação trechos documentais
e mesmo o reaproveitamento de temas musicais já existentes. Esse jeito
guerrilheiro de fazer cinema cria uma atmosfera visceral e cativante para o
espectador, tornando-o ainda mais cúmplice de uma história que dispensa
apelações emocionais e simplesmente investe na crueza e na verdade das
sensações e sentimentos humanos.
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