terça-feira, março 22, 2016

Jimmy's Hall, de Ken Loach ***

Há filmes que na mão de um diretor qualquer seriam obras medíocres e esquecíveis, mas que sob a batuta de um cineasta diferenciado acabam ganhando uma dimensão artística bem maior. Esse é bem o caso de “Jimmy’s Hall” (2014), produção que foca a história de um homem que volta para a sua cidadezinha no interior da Irlanda, abre um salão de diversão e conscientização política e desperta a ira das conservadoras autoridades do local, principalmente de setores da igreja católica. A estrutura narrativa é convencional e os desdobramentos do roteiro obedecem a uma ordem tradicional dentro de um gênero misto de melodrama e crítica sócio-política. Só que quem está por trás das câmeras é Ken Loach, para quem esse tipo de trama é quase inerente ao seu estilo. Ainda que “Jimmy’s Hall” não represente um dos pontos altos da carreira de Loach, estão lá aquelas habituais características formais e temáticas tão caras ao veterano diretor britânico e que ainda se mostram capazes de cativar o público – a envolvente fluência narrativa, a caracterização carismática dos personagens, o roteiro enxuto e de visão ácida sobre as autoridades opressoras, a encenação vigorosa que transcende qualquer tipo de clichê. Dentro dessa abordagem, mesmo sequências previsíveis em suas nuances ganham arrepiante força dramática. E em tempos conturbados como o que vivemos tanto no Brasil como no resto do mundo, onde velhas e tenebrosas ideias reacionárias ganham ares de novidades e vários adeptos, “Jimmy’s Hall” acaba se mostrando ainda pertinente e desafiador na sua contundente crítica ao poder repressor de determinadas alas da sociedade.

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