Há filmes que na mão de um diretor qualquer seriam obras
medíocres e esquecíveis, mas que sob a batuta de um cineasta diferenciado
acabam ganhando uma dimensão artística bem maior. Esse é bem o caso de “Jimmy’s
Hall” (2014), produção que foca a história de um homem que volta para a sua
cidadezinha no interior da Irlanda, abre um salão de diversão e conscientização
política e desperta a ira das conservadoras autoridades do local,
principalmente de setores da igreja católica. A estrutura narrativa é
convencional e os desdobramentos do roteiro obedecem a uma ordem tradicional
dentro de um gênero misto de melodrama e crítica sócio-política. Só que quem
está por trás das câmeras é Ken Loach, para quem esse tipo de trama é quase
inerente ao seu estilo. Ainda que “Jimmy’s Hall” não represente um dos pontos
altos da carreira de Loach, estão lá aquelas habituais características formais
e temáticas tão caras ao veterano diretor britânico e que ainda se mostram
capazes de cativar o público – a envolvente fluência narrativa, a caracterização
carismática dos personagens, o roteiro enxuto e de visão ácida sobre as
autoridades opressoras, a encenação vigorosa que transcende qualquer tipo de
clichê. Dentro dessa abordagem, mesmo sequências previsíveis em suas nuances
ganham arrepiante força dramática. E em tempos conturbados como o que vivemos
tanto no Brasil como no resto do mundo, onde velhas e tenebrosas ideias
reacionárias ganham ares de novidades e vários adeptos, “Jimmy’s Hall” acaba se
mostrando ainda pertinente e desafiador na sua contundente crítica ao poder
repressor de determinadas alas da sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário