A história da Chess Records é bastante emblemática da
importância e influência da música negra-norte americana no século XX. Entre as
décadas de 40 e 60, a gravadora ajudou a lançar nomes fundamentais do blues
elétrico e do rock and roll (Muddy Waters, Little Walter, Etta James, Howlin’
Wolf, Chuck Berry), ajudando a tirar tais gêneros do rótulo preconceituoso de “race
music” e universalizando seu público. Ao mesmo tempo, entretanto, reproduziu
modelos de exploração econômica típicos da época – o dono da gravadora, o judeu
branco Leonard Chess (Adrien Brody), ficou com boa parte dos lucros originários
da arte de seus principais músicos negros. A complexidade dessa história e o
poder cru e selvagem das canções e interpretações de tais artistas não encontram
um tratamento de igual profundidade e interesse em “Cadillac Records” (2008). A
abordagem do diretor Darnell Martin é superficial e convencional em demasia,
com os principais eventos dramáticos da trama tendo uma encenação pouco
inspirada e digna de uma novela televisiva. Faltou maiores ousadia e traquejo
para conseguir traduzir a música sexy e violentamente rítmica dos músicos da
Chess num conjunto imagético igualmente estimulante. Para aqueles que gostam de
Waters e companhia e mesmo para outros que desconhecem esse rico acervo de sedutores
ritmos e melodias e poderosas interpretações até vale assistir a “Cadillac
Records” como um passatempo razoavelmente instrutivo e com alguns momentos
prazerosos (mais “por culpa” da matéria bruta musical, diga-se de passagem...).
No mais, o filme de Martin dá uma constante impressão de frustração.
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