A equação artística de “É o amor” (2015) obedece a uma
lógica muito particular do diretor francês Paul Vecchiali. Alguns elementos
básicos da narrativa até obedecem a uma concepção realista, mas aos poucos eles
se desvanecem em nome de uma encenação entre o delirante e o estilizado ao
extremo. Literatura e teatro se incorporam dentro desse insólito método com uma
estranha naturalidade, fazendo com que por vezes uma mesma ação seja
reinterpretada para enfatizar um subjetivismo poético e exasperado. Dentro de
tais concepções, a obra de Vecchiali evoca referências cinematográficas
passadistas, que nos últimos tempos até pareciam um tanto distantes, como
coreografias desajeitadas que lembram velhos musicais, uma aura sombria e
melancólica que se associam a filmes de horror psicológico de algumas décadas
atrás, trejeitos formais típicos da Nouvelle Vague. Esse caldo de influências
acentua uma ambígua visão estética e temática, em que uma atmosfera de
exagerado romantismo convive com uma ótica bastante amarga sobre as relações
amorosas. Para embarcar nessa viagem sensorial de “É o amor”, o espectador tem
de se desgarrar um pouco de clichês e fórmulas usuais, mas por vezes essa
experiência pode ser gratificante diante da sensibilidade e criatividade à
flor-da-pele de Vecchiali.
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