A sequência de abertura de “O regresso” (2015) é promissora
– com edição de poucos cortes e encenação vigorosa, o diretor mexicano
Alejandro González Iñarritu concebe tomadas de ação alucinada ao retratar uma
batalha entre caçadores de pele e índios no interior selvagem dos Estados
Unidos na primeira metade do século XIX. Se Iñarritu mantivesse seu filme nessa
levada, haveria a forte possibilidade de se ter uma obra antológica no gênero
aventura. Mas para as pretensões artísticas do cineasta em questão, talvez isso
fosse muito pouco... O fato é que a narrativa do filme envereda em vários
momentos por uma atmosfera reflexiva, por vezes até caindo no metafísico. E
assim, dá-lhe tomadas com personagens olhando para o horizonte, narração em off
de texto pretensamente poético, estética new age em algumas tomadas. Essa
conjugação entre aventura de época e drama existencial não chega a ser
exatamente uma novidade, vide, por exemplo, o extraordinário “O novo mundo”
(2005). Ocorre, entretanto, que Iñarritu se mostra bem longe de atingir o
equilíbrio formal e temático que Terrence Mallick obteve em sua mencionada
obra. “O regresso” parece muito mais refletir uma espécie de indecisão criativa
de seu criador entre o faroeste naturalista casca grossa e o épico
existencialista, fazendo com que o casamento entre esses dois polos narrativo
não atinja um ponto de fluidez satisfatório. Mesmo o fato da longa duração da
produção não implica necessariamente em uma caracterização psicológica mais
aguda de personagens e situações. Nesse sentido, os momentos em que se
manifestam os delírios e devaneios oníricos do protagonista Hugh Glass
(Leonardo DiCaprio) são apenas enfadonhos e marcados por um simbolismo raso. A
verdade é que “O regresso” mostra a que veio quando Iñarritu deixa o
cerebralismo fajuto de lado e envereda em boas cenas de tiroteios, perseguições
a cavalo e brutais duelos com facas e machadinhas, chegando até a fazer lembrar
trabalhos marcantes no gênero como “O último dos moicanos” (1992) ou
“Apocalypto” (2006).
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