sexta-feira, abril 29, 2016

O futebol, de Sergio Oksman ***1/2

Paira sobre o documentário “O futebol” (2015) um certo senso de caos e aleatoriedade. Num primeiro momento, o diretor Sergio Oksman se propõe a fazer uma espécie de diário intimista de um período de reaproximação com o seu pai, Simão Oksman, tendo em vista o fato de terem passado 20 anos sem se falarem e nesse longo tempo o cineasta ter se mudado para a Espanha. Essa temporada de interação entre pai e filho se daria durante a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Pelas conversas entre os dois, pode-se pressupor que o futebol seria um assunto que os aproximaria, tanto pelo fato de Simão ser um grande apreciador do esporte quanto pelo histórico de que na infância e juventude do diretor este e o pai costumavam ir juntos aos estádios. Ocorre, entretanto, que os planos iniciais parecem não se concretizarem devido ao inesperado: o ambiente em São Paulo não parece ter aquela animação esperada para uma época de Copa no Brasil, Simão se mostra um tanto arredio e taciturno e, por fim, o pai acaba falecendo no meio da competição. Apesar dessas inconstâncias do destino, o filme consegue manter um inabalável rigor formal e existencial, o que dá para a obra uma unidade artística impressionante. O registro visual da direção de fotografia, baseado em longos planos-sequência fixos, é simples na sua execução e bastante expressivo na configuração da atmosfera e da narrativa da obra. Essa abordagem que Sergio Oksman dá para a sua obra remete bastante ao ascetismo característico de Robert Bresson. Ao contrário da transcendência metafísica que os trabalhos de Bresson sugerem, o estilo áspero de “O futebol” evoca uma resignação melancólica, em que a impossibilidade de comunicação efetiva entre pai e filho para a reconstrução de laços afetivos, o desempenho constrangedor da seleção na Copa e o ânimo sombrio que São Paulo transparece parecem se relacionar de maneira intrínseca, resultando num retrato bastante emblemático dos tempos conturbados que vivemos.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Assisti ontem. Muito show