É bem recorrente ao se observar críticas e análises em geral
sobre um filme como “Independence Day: O ressurgimento” (2016) aparecer
comentários dizendo que se trata apenas de uma ficção científica escapista cuja
única função é divertir e que dessa forma não daria para exigir muito. Tal
argumentação, entretanto, acaba não se sustentando ao se assistir a obra em
questão. Por mais que seja fantasiosa, trata-se de uma produção que traz uma
linha estética e temática destinada a passar uma visão de mundo muito bem
definida. Pode-se ver ao longo da trama, várias sequências em que discursos
patrióticos e edificantes são proferidos, sempre embalados por temas musicais
ultra sentimentais. Isso sem falar das cenas de ação que ressaltam um híbrido
de macheza e disposição de sacrifício por um bem maior (pode ser a pátria, a
família ou simplesmente o sistema). Nesse sentido, tal concepção de ficção
científica paranoica de invasão alienígena pouco difere do clássico “Vampiros
de almas” (1956), em que o simbolismo evidente é dos ETs se relacionarem aos
comunistas. No filme de Roland Emmerich, talvez essa associação seja mais
difusa, em que o alienígena apenas pode ser aquele que seja diferente do padrão
asséptico ocidental de branco-cristão, ainda que o roteiro evoque algo de
democracia racial e global (claro que desde que comandada por militaristas
norte-americanos). No final das contas, trata-se de uma peça de propaganda de
fascismo light, coisa que há havia sido ironizada de maneira genial em “Tropas
estelares” (1997). Mas ainda que esse novo capítulo de “Independence Days” se
leve tão a sério no seu delírio militarista messiânico, não é isso que torna
definitivamente o filme tão frustrante. Há detalhes imagéticos realmente
atraentes, principalmente no que diz respeito a caracterização visual de naves
e aliens, e mesmos algumas sequências de ação bem divertidas, mas tudo isso
sucumbe mediante a falta de uma efetiva tensão dramática, da caracterização unidimensional
de personagens e da narrativa saneada para não chocar as grandes audiências.
Um comentário:
É um filme que é representação do melhor e do pior da pálida década de 90. Diverte, mas envelheceu um pouco mal ao longo do tempo, principalmente num pós 11 de setembro, onde patriotismo americano daquele período se tornou piegas.
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