segunda-feira, junho 13, 2016

Uma noite em Sampa, de Ugo Giorgetti ***

O diretor Ugo Giorgetti apresenta em “Uma noite em Sampa” (2016) uma espécie de fórmula artística própria que já havia depurado de maneira bastante característica em algumas obras anteriores de sua filmografia, combinando concisão narrativa e economia de recursos estéticos. Dá para dizer que tal estilo já havia alcançado resultados mais expressivos em filmes como “Festa” (1989) e “Solo” (2010). Ainda assim, esse seu trabalho mais recente guarda alguns aspectos positivos que fazem valer uma conferida. A encenação guarda parentesco com o teatro, valorizando caracterizações caricaturais e exageradas, mas com o desenvolver da trama tal abordagem acaba se mostrando coerente com o espírito do filme, em que as situações angustiantes e as reações dos personagens acabam traçando um raio-x psicossocial da sociedade brasileira contemporânea, principalmente no que diz respeito a retratar os preconceitos da classe média nativa. Giorgetti extrai interpretações contundentes de seu elenco, o que acaba valorizando os diálogos repletos de ironia venenosa. A narrativa fica num limite nebuloso e perturbador entre o naturalismo e o delirante – é de se reparar, nesse sentido, no inteligente uso de manequins em cena e como eles interagem com as figuras em “carne e osso” do filme. No mais, “Uma noite em Sampa” peca no tom autoexplicativo de algumas sequências, com ênfase na forma explícita com que coloca a influência de “O anjo exterminador” (1962) em sua concepção formal e temática. Apesar de tais equívocos, a produção de Giorgetti reforça ainda mais o caráter autoral do cineasta, mostrando por que ele é um dos grandes nomes do cinema nacional.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Gostei muito do filme mas a referencia dita sobre o Anjo Exterminador foi realmente dispensável já que ela está mais do que escancarada.