O diretor Ugo Giorgetti apresenta em “Uma noite em Sampa”
(2016) uma espécie de fórmula artística própria que já havia depurado de
maneira bastante característica em algumas obras anteriores de sua filmografia,
combinando concisão narrativa e economia de recursos estéticos. Dá para dizer
que tal estilo já havia alcançado resultados mais expressivos em filmes como “Festa”
(1989) e “Solo” (2010). Ainda assim, esse seu trabalho mais recente guarda
alguns aspectos positivos que fazem valer uma conferida. A encenação guarda
parentesco com o teatro, valorizando caracterizações caricaturais e exageradas,
mas com o desenvolver da trama tal abordagem acaba se mostrando coerente com o
espírito do filme, em que as situações angustiantes e as reações dos
personagens acabam traçando um raio-x psicossocial da sociedade brasileira
contemporânea, principalmente no que diz respeito a retratar os preconceitos da
classe média nativa. Giorgetti extrai interpretações contundentes de seu
elenco, o que acaba valorizando os diálogos repletos de ironia venenosa. A
narrativa fica num limite nebuloso e perturbador entre o naturalismo e o
delirante – é de se reparar, nesse sentido, no inteligente uso de manequins em
cena e como eles interagem com as figuras em “carne e osso” do filme. No mais, “Uma
noite em Sampa” peca no tom autoexplicativo de algumas sequências, com ênfase na
forma explícita com que coloca a influência de “O anjo exterminador” (1962) em
sua concepção formal e temática. Apesar de tais equívocos, a produção de Giorgetti
reforça ainda mais o caráter autoral do cineasta, mostrando por que ele é um
dos grandes nomes do cinema nacional.
Um comentário:
Gostei muito do filme mas a referencia dita sobre o Anjo Exterminador foi realmente dispensável já que ela está mais do que escancarada.
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