Lá pela primeira metade da década de 90, foi publicada no
Brasil a revista da Liga da Justiça que em seu mix apresentava a fase mais
marcante do Esquadrão Suicida, grupo de supervilões que trabalhavam para o
governo norte-americano em troca de abrandamento de suas penas. Nesse período,
as histórias eram escritas por John Ostrander e desenhadas por Luke McDowell,
mostrando uma ótima síntese entre ação empolgante e convincente caracterização
psicológica de personagens e situações. As principais figuras do grupo tinham
uma dimensão humana bem desenvolvida em suas complexidades, as tramas fugiam de
obviedades e se podia perceber uma atmosfera constante de sordidez e amargura
na narrativa gráfica. No filme “Esquadrão Suicida” (2016) se pode perceber
referências a essa fase áurea do grupo nas HQs, trazendo até em determinado
momento uma homenagem explícita para Ostrander, que tem o seu nome impresso nas
telas intitulando um edifício. Isso, entretanto, não consegue fazer com que a
obra dirigida por David Ayer seja uma produção digna de nota. Por vezes, até dá
para sentir que dentro de algumas concepções havia alguma ideia interessante,
principalmente no que diz respeito à ambiguidade do mote principal do roteiro
(vilões que devem agir como heróis) e no desenvolvimento de alguns personagens.
Tudo isso acaba enterrado em nome de hipócritas regras de mercado que servem para
amenizar o teor adulto e violento do conceito original e deixá-lo mais
palatável em termos comerciais para o grande público composto de geeks, nerds e
simples mortais. Não há uma efetiva tensão que envolva o espectador, a
narrativa é picotada, os personagens são rasos e desinteressantes, o roteiro é
superficial e não desenvolve à contento os personagens e situações, as
sequências de ação são burocráticas. Num contexto geral, é como se Ayer e seus assessores
tivessem incorporado tudo aquilo que deu certo em outros filmes de super-heróis
(a trilha sonora rock and roll/pop de “Guardiões da Galáxia”, a violência e
escrotidão de “Deadpool”, as piadinhas bestas de “Homem de Ferro”, a
ambientação sombria de “Batman – O cavaleiro das trevas”) e misturasse tudo sem
muitos critérios estéticos e temáticos como se isso por si só fosse garantia de
sucesso. É claro que apesar de todos esses equívocos “Esquadrão Suicida” fará
muito dinheiro, afinal, conta com uma invejável aparelhagem marqueteira. E pelo
menos saia algo de bom disso – talvez alguma editora brasileira se disponha a
lançar um encadernado com a já mencionada fase de ouro do Esquadrão Suicida da
dobradinha Ostrander/McDowell. Mas no geral, o que prevalece é a decepcionante sensação
de picaretagem gananciosa de outras adaptações cinematográficas recentes do
universo da DC Comics (“Superman – O Homem de aço” e “Batman versus Superman).
2 comentários:
O filme é bom, mas ele sofreu algo no percurso na montagem final. Pelas últimas noticias ouvi falar que o filme era para ser 2h45min. Isso daria tempo para deixar a trama mais redonda e mais tempo para o Coringa, sendo que esse é o que sofreu mais corte. Enfim, resta agora esperar uma edição especial com um corte definitivo da obra. Quanto a HQ, dessa fase ainda não foi publicada, porém recentemente foi lançada uma edição do recomeço do grupo, onde Arlequina rouba a cena.
2h45min de Esquadrão Suicida? Quem iria aguentar assistir isso?
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