O grande problema do documentário “São Paulo em Hi-Fi”
(2013) não é muito difícil de resumir: a sua estrutura narrativa convencional e
excessivamente mecânica não se encontra em sintonia com a sua temática complexa
e irreverente. O diretor Lufe Stefren tinha uma matéria prima bastante rica
para construir uma obra memorável ao mostrar a trajetória das casas noturnas
gays da noite da capital paulista nas décadas de 60, 70 e 80 – depoimentos reveladores
e emocionados de entrevistados que vivenciaram o período em questão, imagens de
arquivo em profusão, temática bastante interessante. Ocorre que o espírito
libertário do assunto que aborda não contaminou sua concepção formal
excessivamente burocrática. A narrativa não consegue ter uma desenvoltura
efetivamente capaz de prender a atenção do espectador. O padrão de encadeamento
das cenas é cumprido com uma previsibilidade entediante: é sempre depoimento
seguido de filmagens de apresentações na época, por vezes entremeado com
algumas fotografias. Não há aquela narrativa dinâmica e ambientação apaixonada
de “Geraldinos” (2015) ou aquele lirismo libertário à flor-da-pele de “Yorimatã”
(2014). Faltou uma montagem mais criativa que combinasse todos esses elementos
de uma maneira ágil e ousada, em que a estética complementasse a atmosfera
mista de alegria, sordidez e nostalgia que emana da história contada. É claro
que para efeitos históricos “São Paulo em Hi-Fi” é até uma experiência válida
por retratar fatos um tanto obscuros para a grande maioria das pessoas. Como
experiência cinematográfica, entretanto, é frustrante por suas escolhas
artísticas bem comportadas.
Um comentário:
Eu gostei bastante da obra
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