Uma obra que tem como temática freiras polonesas estupradas
durante a 2ª Guerra Mundial já tem um potencial claro para ser explosiva.
Talvez se fosse realizada nas décadas de 60 e 70 poderia receber um tratamento
tipicamente exploitation. No caso de “Agnus Dei” (2015), entretanto, a
abordagem é mais solene e sutil. A diretora Anne Fontaine prefere enfatizar
mais as consequências psicológicas e morais do que investir no grafismo
explícito das religiosas sendo violentadas. Nesse sentido, a atmosfera do filme
é mais de uma certa sobriedade emocional e de uma incômoda tensão. O subtexto
do roteiro questiona os fundamentos de uma sociedade machista e patriarcal que
força as vítimas a terem de se comportar como se fossem culpadas pelas
brutalidades que sofreram. Ainda que tenha esse caráter de contestação, em
termos formais a produção prima por um tom asséptico na narrativa e em sua
concepção visual, o que reduz consideravelmente a sua força. E mesmo dentro de
seu perfil de crítica social e cultural a obra de Fontaine acaba caindo na
superficialidade, pois há um certo maniqueísmo na caracterização de algumas
situações e personagens, principalmente na figura da madre superiora,
deixando-se de se apresentar uma visão mais contundente sobre os absurdos
dogmas religiosos que impedem as freiras de se tornarem mais proativas em suas
atitudes.
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