Giuseppe Tornatore tem seus méritos como cineasta. Pode-se
dizer que em décadas de carreira conseguiu criar uma espécie de marca autoral,
fazendo uma espécie de síntese de melodrama convencional e formalismo correto.
Os pontos altos de sua carreira (“Cinema Paradiso” e “Estamos todos bem”),
ainda que festejados com exagero por boa de público e crítica, são exemplares
expressivos dessa sua fórmula artística. Por vezes, entretanto, a receita de
Tornatore desanda e resulta em equívocos como “Lembranças de um amor eterno”
(2015). É claro que estão lá alguns preceitos do “cinema de qualidade”, como fotografia
estilo cartão postal e edição acadêmica. O grande problema do filme é que a
abordagem estética para a trama é desencontrada – os exageros sentimentais do
roteiro pediam uma narrativa mais equilibrada e mesmo ambígua. É só lembrar do
que Roman Polanski aprontou no extraordinário “O escritor fantasma” (201), em
que uma histórica rocambolesca de suspense e intrigas era envolvida em
ambientação doentia mista de ironia e goticismo e um barroquismo estético de
rigor notável. No filme de Tornatore, não há esse senso artístico, fazendo com
que uma trama apelativa beirando o ridículo seja levada extremamente a sério e
não permita ao espectador algum espaço para a dúvida e tensão. O elemento
fantástico que é sugerido no terço inicial do filme é logo extirpado em nome de
um realismo novelesco, impressão essa acentuada pelas atuações canastronas de
Jeremy Irons e Olga Kurylenko, com o roteiro também sugerindo um duvidoso
elogio ao patriarcalismo. Se Polanski tivesse colocado as mãos em “Lembranças
de um amor eterno”, provavelmente teríamos visto uma bela tiração de sarro com
tais elementos temáticos moralistas. Do jeito que ficou, o filme apenas reforça
o anacronismo estilístico de Tornatore.
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